Reino Unido sem fronteiras preparadas no caso de saída sem acordo

PorExpresso das Ilhas, Lusa,24 out 2018 15:54

O Reino Unido continua sem ter condições para aplicar controlos alfandegários mais elaborados nas suas fronteiras, necessários caso a saída da União Europeia seja feita sem um acordo, conclui um relatório oficial publicado hoje.

A Agência Nacional de Auditoria, entidade responsável por examinar a despesa pública, afirmou hoje que "a eficácia do planeamento e execução das fronteiras pelos ministérios foi afectada pela incerteza em curso e pelos atrasos nas negociações" sobre o 'Brexit'.

O relatório hoje publicado identifica falta de pessoal, atrasos nas infraestruturas, como sistemas informáticos ou espaços para a inspecção de bens.

O documento considera que 11 dos 12 grandes projectos poderão não estar prontos a tempo com "qualidade aceitável" para lidar com um aumento de 55 milhões para 260 milhões de declarações alfandegárias estimadas necessárias se não houver um acordo de saída que mantenha as actuais normas comerciais.

Os autores alertam ainda que "os criminosos organizados, e outros, serão rápidos a explorar quaisquer fraquezas ou lacunas no regime de execução" porque as autoridades têm como prioridade a segurança e a fluidez do movimento.

"Isso, combinado com a potencial perda de acesso do país a ferramentas de segurança, aplicação da lei e de justiça criminal da UE, poderá criar fraquezas de segurança que o governo precisaria resolver urgentemente", avisam.

O governo britânico já tinha admitido antes que o funcionamento das fronteiras será "inferior ao optimizado" em locais como o porto de Dover, no sul de Inglaterra, a principal ligação com o continente europeu, que chega a França pela via marítima e ferroviária, através do Eurotúnel.

Por isso, começou a estudar planos de contingência para gerir as longas filas de trânsito de veículos de mercadorias e pessoas, incluindo o uso de autoestradas como parques de estacionamento.

O Financial Times noticiou também que o ministro dos Transportes, Chris Grayling, havia proposto no conselho de ministros na terça-feira fretar navios para transportar alimentos e remédios através de portos alternativos para contornar potenciais bloqueios em Dover.

"Continuamos confiantes em alcançar um acordo com a UE, mas é sensato que o governo e a indústria se preparem para uma série de cenários", justificou hoje o ministério de Transportes em comunicado.

O Reino Unido deverá deixar a UE em 29 de Março de 2019, mas está a negociar com Bruxelas um acordo sobre os termos de 'divórcio' que permita uma transição suave e ordenada para um novo relacionamento através de um período de transição até ao final de 2020.

Porém, um impasse numa solução para a fronteira terrestre entre a região britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, Estado membro da UE, aumentou o receio de um 'Brexit' sem acordo que criaria confusão nos portos e instabilidade económica.

Ambas as partes concordam que não deve haver uma fronteira física que perturbe os negócios de empresas e as vidas de residentes de ambos os lados e ponha em causa o processo de paz negociado para a Irlanda do Norte.

Bruxelas rejeitou a proposta de May para uma zona de comércio livre para bens e produtos alimentares com a UE e Londres rejeitou a solução europeia de manter a Irlanda do Norte no mercado único até ser concluído um entendimento para as relações comerciais.

A primeira-ministra, Theresa May, afirmou na segunda-feira que "95%" do acordo está concluído e mostrou abertura para ultrapassar o diferendo prolongando o período de transição pós-'Brexit'.

Porém, a sugestão não foi bem aceite pelos partidários de um 'Brexit' mais drástico que não implique compromissos com as regras europeias e permita a negociação imediata de novos acordos comerciais com outros países.

Muitos destes chamados "brexiteers" são membros do partido Conservador e deverão confrontar May hoje numa reunião à porta fechada do Comité 1922, o grupo parlamentar onde se tomam as decisões sobre as eleições para a liderança do partido.

Uma moção de censura só pode ser accionada se for subscrita por 15% dos deputados conservadores, actualmente 48, mas May só é afastada se 159 dos 316 deputados não mostrarem confiança na líder dos "tories".

Uma sondagem divulgada hoje pelo jornal Evening Standard concluiu que 64% dos conservadores não acreditam que a primeira-ministra vai conseguir bom acordo, contra 53% no mês passado, e apenas 34% estão optimistas (45% em Setembro).

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,24 out 2018 15:54

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  17 jul 2019 23:22

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