Nos últimos dias, várias bases militares russas, incluindo duas localizadas a cerca de 500 quilómetros da Ucrânia, e até a capital russa, foram alvo de drones de ataque.
Hoje um drone foi abatido pela frota russa em Sebastopol, na Crimeia, disseram as autoridades locais, um sinal dos riscos que continuam sobre a península anexada que Kiev jurou retomar.
Esses ataques, combinados com uma série de retiradas russas na Ucrânia, parecem testemunhar o facto de que, nove meses após o início da ofensiva, a Rússia está a lutar para consolidar as suas posições, mas também para proteger as suas bases na retaguarda, longe da frente de batalha.
Na Crimeia "há riscos, porque o lado ucraniano continua a seguir a sua linha de organização de ataques terroristas", disse hoje o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O facto de o drone ter sido abatido "mostra que contramedidas eficazes estão a ser tomadas", disse.
A frota russa do Mar Negro, baseada no porto de Sebastopol, foi atingida no final de Outubro pelo que as autoridades chamaram de ataque "massivo" de drones, que danificou pelo menos um navio.
Neste Outono, a ponte que liga a península da Crimeia à Rússia foi parcialmente destruída por uma enorme explosão que Moscovo atribuiu às forças ucranianas.
É neste contexto que as autoridades instaladas por Moscovo na Crimeia anunciaram a construção de fortificações e trincheiras, sobretudo desde que as forças ucranianas tomaram parte da região de Kherson, que faz fronteira com a península, em Novembro.
Com as linhas de frente correndo o risco de congelar com o Inverno, os ucranianos estão a recorrer cada vez mais a drones para atacar as bases russas na retaguarda, enquanto os russos estão a bombardear as infraestruturas de energia ucranianas, deixando os civis no frio e na escuridão.
O ministro da Defesa ucraniano, Oleksiï Reznikov, indicou que o Exército ucraniano tinha integrado "sete modelos de drones fabricados na Ucrânia" durante o mês anterior, contra apenas "um ou dois" por ano antes da ofensiva russa.
Num sinal de que as autoridades russas estão atentas à Crimeia, os serviços de segurança russos (FSB) anunciaram hoje a detenção de dois residentes de Sebastopol, suspeitos de terem transmitido informações sobre alvos militares à Ucrânia.
Em comunicado, o FSB indica que um dos suspeitos foi recrutado em 2016 por Kiev e transmitiu, desde o ataque maciço do Kremlin contra a Ucrânia no final de Fevereiro, "informações sobre a localização das instalações do Ministério da Defesa russo".
O Exército ucraniano aproximou-se da Crimeia graças a uma contra-ofensiva vitoriosa que lhe permitiu retomar a cidade estratégica de Kherson, no sul do país, em meados de Novembro.
Nesta área, onde o grosso das forças dos dois campos é separado pelo rio Dnieper, a situação permanece tensa, com ataques russos regulares à cidade de Kherson.
Oleksiï Kovbassiouk, morador da região atravessa o rio apesar dos riscos e das baixas temperaturas para ajudar os habitantes presos na margem esquerda, ocupada pelos russos, a fugir.
"Já tive dois buracos de bala no meu barco", disse ele à agência noticiosa AFP.
Também hoje, o Kremlin acusou de "russofobia" a revista americana Time, que na quarta-feira nomeou o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky como personalidade do ano de 2022, bem como "o espírito ucraniano" contra Moscovo.
Embora Moscovo tenha sofrido vários reveses dolorosos desde o Verão, o que forçou o Kremlin a mobilizar várias centenas de milhares de reservistas, o Presidente russo, Vladimir Putin, parece estar a preparar a opinião pública para um conflito que provavelmente durará.
A intervenção na Ucrânia é "um longo processo", reconheceu na quarta-feira, assegurando que "o aparecimento de novos territórios" que Moscovo afirma ter anexado foi um "resultado significativo para a Rússia".
O líder do Kremlin também pareceu relativizar o risco do recurso às armas nucleares. "Não enlouquecemos", disse ele, acrescentando que a arma definitiva só seria usada em caso de "retaliação".
Essas declarações foram condenadas por Washington, que qualificou de "irresponsável" essa "conversa fiada" sobre armas nucleares.
Hoje Putin participou numa rara cerimónia pública no Kremlin, de condecoração de soldados destacados na Ucrânia com a Ordem dos Heróis da Rússia.
"Quero dizer a todos que estão na linha de frente que para mim, para todos os nossos concidadãos, vocês são todos heróis", disse.