"Condeno veementemente a tentativa de desestabilização do Governo da Gâmbia. A União Africana rejeita veementemente qualquer tomada de poder pelas armas e mantém-se solidária com o Governo da Gâmbia", disse na quarta-feira o chefe de Estado senegalês e presidente em exercício da UA, Macky Sall, na rede social Twitter.
O bloco regional da África Ocidental, a CEDEAO, também condenou os acontecimentos num comunicado e expressou a sua "rejeição total" de qualquer mudança "inconstitucional" de Governo nos seus estados membros.
"A Comissão da CEDEAO saúda a liderança e o pessoal dos serviços de segurança da Gâmbia pela sua adesão ao seu papel constitucional e por impedir esta conspiração ilegal", disse a organização.
O Governo da Gâmbia alertou na quarta-feira para uma alegada tentativa de golpe de Estado, que levou à prisão de quatro soldados do exército da Gâmbia e três outros alegados cúmplices estão a ser procurados.
"O Governo da Gâmbia anuncia que, com base em informações secretas, que alguns soldados do exército gambiano estavam a conspirar para derrubar o Governo democraticamente eleito do Presidente Adama Barrow", escreveu o porta-voz do executivo e conselheiro presidencial, Ebrima G. Sankareh.
Na declaração, o porta-voz do Governo anunciou que "numa rápida operação militar", realizada na terça-feira, o Alto Comando das Forças Armadas Gambianas "prendeu quatro soldados ligados a esta alegada conspiração golpista".
Segundo os "relatórios dos serviços secretos", "alguns soldados do exército gambiano conspiraram para derrubar o Governo democraticamente eleito do Presidente Adama Barrow", explicou.
"As investigações sobre este assunto continuam e os cidadãos serão devidamente informados de quaisquer novos desenvolvimentos", disse o porta-voz do executivo e conselheiro da presidência, acrescentando que a situação estava "totalmente sob controlo".
A confirmar-se, esta seria a mais recente tentativa de golpe de Estado na África Ocidental desde 2020, após dois golpes bem-sucedidos no Mali e no Burkina Faso e outro na Guiné-Conacri, e uma tentativa na Guiné-Bissau, que está fisicamente próxima da Gâmbia, separada apenas por uma pequena faixa de 300 quilómetros de território senegalês.
A Gâmbia, um pequeno país que só desde 2017 tem um regime democrático, é considerado frágil, depois de 20 anos de ditadura de Yahya Jammeh.
A Gâmbia é presidida por Adama Barrow desde Dezembro de 2016, quando derrotou nas urnas o ex-presidente Yahya Jammeh, que tinha governado o país com mão de ferro desde 1994, num regime caracterizado por graves violações dos direitos humanos, incluindo desaparecimentos forçados, tortura e execuções extrajudiciais de estudantes, activistas, opositores e funcionários públicos.
Em 2018, Barrow lançou a Comissão de Verdade, Reconciliação e Reparação, que investigou estes abusos durante três anos e em finais de Novembro de 2021 apresentou as suas conclusões finais ao Presidente, apelando à acusação dos responsáveis pelos crimes cometidos durante o regime de Jammeh.
Barrow foi reeleito como Presidente da Gâmbia em Dezembro de 2021 para outro mandato de cinco anos, enquanto Jammeh está no exílio na Guiné Equatorial desde a sua derrota eleitoral.