“A China pode ser uma parceira no processo de reindustrialização do Brasil num modelo mais inclusivo, sustentável e verde”, disse Karin Vázquez, investigadora sobre questões de desenvolvimento sustentável na Universidade de Fudan, em Xangai, e no Centro para a China e a Globalização, um grupo de reflexão (‘Think Tank’), com sede em Pequim.
O presidente do Brasil devia iniciar na segunda-feira uma visita de cinco dias à China, mas Lula da Silva adiou a viagem por indicação médica.
Vázquez sublinhou a capacidade da China nos sectores das energias renováveis ou infraestruturas. “A China lidera numa série de tecnologias que o Brasil precisa para se reindustrializar”, afirmou.
Num artigo publicado no China Daily, jornal oficial em língua inglesa, o ministro dos Negócios Estrangeiros brasileiro, Mário Vieira, afirmou que um diálogo “mais próximo” entre os dois países “pode ajudar a moldar a ordem mundial do século XXI e enfrentar desafios globais, como a crise ambiental”.
Vieira revelou que Brasil e China estão a estudar o estabelecimento de um mecanismo bilateral dedicado a “debater políticas e questões ambientais”.
“Um diálogo sino-brasileiro mais próximo sobre temas-chave como protecção da biodiversidade, iniciativas florestais, emissões e controlo da poluição vai beneficiar as nossas sociedades e o mundo em geral”, apontou.
A estatal chinesa State Grid, líder mundial na transmissão de energia em longa distância, opera já as duas linhas de alta tensão que conectam a hidroeléctrica de Belo Monte, no Pará, à região Sudeste do Brasil.
O país asiático, o maior emissor de gases poluentes do mundo, tem também planos ambiciosos para o sector das energias renováveis. A capacidade instalada conjunta entre energia eólica e solar da China deve ascender 920 gigawatts, este ano, segundo dados oficiais. É o valor mais alto do mundo.
Nos últimos quinze anos, a China construiu também quase 40.000 quilómetros de rede de alta velocidade ferroviária - mais do que todos os outros países do mundo juntos.
Karin Vázquez sublinhou o impacto que a transferência de tecnologia chinesa ou o investimento em infraestruturas pela China pode ter para a erradicação da pobreza no Brasil.
A investigadora enfatizou a importância dos dois países na “liderança” do Sul Global – termo que se refere ao conjunto de países em desenvolvimento -, em questões como a “redução da pobreza, da fome, alterações climáticas, reformas na governação dos organismos internacionais ou dos fóruns globais como o G20”.
“Eu começo a perceber uma mudança na percepção dos empresários brasileiros de a China não mais como uma vilã da indústria brasileira, mas como uma parceira”, afirmou.
Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com o comércio bilateral a passar de nove mil milhões de dólares, em 2004, para 150 mil milhões, em 2022.
O Brasil desempenha também um importante papel na segurança alimentar da China, compondo mais de 20% das importações agrícolas do país asiático.
Durante os primeiros dois mandatos de Lula da Silva, entre 2003 e 2011, a relação comercial e política entre Brasil e China intensificou-se, marcada, em particular, pela constituição do bloco de economias emergentes BRICS, que inclui ainda Rússia, Índia e África do Sul.
A relação entre Pequim e Brasília arrefeceu durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, que assumiu o poder com a promessa de reformular a política externa brasileira, com uma reaproximação aos Estados Unidos, e pondo em causa décadas de aliança com o mundo emergente.