Numa declaração de quatro minutos, com direito a quatro perguntas, Simon Stiell aplaudiu a aprovação do Fundo de Perdas e Danos no arranque da conferência, mas diz que é preciso mais. Na conferência de imprensa, a que a Rádio Morabeza assistiu, o responsável dirigiu-se aos negociadores com uma mensagem clara: “só poderemos superar a crise climática se abandonarmos a situação habitual”.
“A vitória em Perdas e Danos aqui em Dubai deu um impulso a esta COP. Mas é apenas um começo. Agora, todos os governos devem dar ordens claras aos seus negociadores: precisamos da mais ambição e não de políticas de pontuação ou de mínimo denominador comum. O Global Stocktake é o veículo para colocar a acção climática no caminho certo. As finanças são o grande facilitador da acção climática. As negociações devem colocá-lo no centro das atenções. Perdas e danos foram uma vitória, mas estamos enganados se pensarmos que é uma opção para financiamento e apoio nesta COP, é necessário mais”, alerta.
Considerada uma "decisão histórica", a entrada em funcionamento do Fundo de Perdas e Danos foi adoptada com aclamação por cerca de 200 países no primeiro dia da COP28, no Dubai. O mecanismo prevê um financiamento de 100 mil milhões de dólares por ano.
O Secretário Executivo das Nações Unidas para as Alterações Climáticas considera que é necessária maior transparência e que a promessa de financiar a acção climática em todo o mundo seja cumprida.
“Sejamos honestos: boas intenções não reduzirão as emissões para metade nesta década nem salvarão vidas neste momento. Só progressos sérios em matéria de finanças poderão produzir resultados de primeira linha. Dissemos que duplicaríamos o financiamento da adaptação – agora temos de cumprir, inclusive nos detalhes, e preparar-nos para ir muito mais longe. Não devemos perder o foco no Objectivo Global de Adaptação”, defende.
O responsável da ONU afirma que as ferramentas estão todas sobre a mesa, as tecnologias e soluções existem, pelo que “chegou a hora de os governos e os negociadores os pegarem e os colocarem em prática”
“A chave agora é separar o trigo do joio. Se quisermos salvar vidas agora e manter a meta 1,5 ao nosso alcance, os resultados mais ambiciosos da COP devem permanecer na frente e no centro. No final da próxima semana, precisamos que a COP entregue um comboio-bala para acelerar a acção climática. Atualmente temos um vagão velho percorrendo trilhos frágeis. Oito mil milhões de pessoas estão na linha da frente. Neste momento, apenas 50 países têm Planos Nacionais de Adaptação”, diz.
Apesar de, no seu discurso, manter o foco nas negociações, o responsável das Nações Unidas não quis comentar o ambiente que se vive na mesa negocial. Simon Stiell garante que as Nações Unidas sobre Alterações Climáticas vão trabalhar com as partes em todas as etapas do processo, como intermediários, para garantir que todos os países tenham um lugar à mesa e possam usar toda a sua voz.