EUA admitem prolongar prazo de entrada em vigor de sobretaxas

PorExpresso das Ilhas, Lusa,27 jun 2025 8:29

A Casa Branca admitiu hoje prolongar o prazo de 09 de Julho para a entrada em vigor dos aumentos de tarifas aduaneiras dos Estados Unidos sobre as importações de dezenas de países.

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o adiamento das sobretaxas de importação "talvez possa ser prolongado", salientando que a "decisão cabe ao Presidente", Donald Trump.

O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, admitiu no início de Junho o prolongamento da actual pausa nas tarifas recíprocas.

Em nome da protecção da produção interna, Trump impôs tarifas sectoriais específicas, como sobre o aço e o alumínio, após regressar à Casa Branca em Janeiro.

No início de Abril, Trump anunciou a implementação de tarifas recíprocas, que tributariam os produtos de determinados países com base no défice comercial dos EUA com esse país.

Este anúncio causou considerável agitação política e uma quebra nos mercados financeiros.

Pouco depois, Trump suspendeu as tarifas por 90 dias, dando tempo para negociar acordos comerciais com os vários países.

A suspensão aplica-se a todas as tarifas acima de uma sobretaxa de 10% recentemente imposta, que a administração Trump considera um nível mínimo para os produtos que entram nos Estados Unidos (com algumas excepções).

"O prazo não é definitivo", garantiu hoje Karoline Leavitt.

"O Presidente pode simplesmente oferecer um acordo a estes países se estes se recusarem a oferecer-nos um até à data limite", adiantou.

Isto significa que Donald Trump pode "escolher uma tarifa recíproca que considere vantajosa para os Estados Unidos", acrescentou.

Sobre o progresso das negociações comerciais, Leavitt garantiu que o representante comercial da Casa Branca, Jamieson Greer, "está a trabalhar muito arduamente" e teve "boas e produtivas discussões com muitos dos principais parceiros comerciais" norte-americanos.

Na semana passada, Trump e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, assinaram um acordo comercial que reduzirá as tarifas sobre os produtos de ambos os países.

O acordo anunciado à margem da cimeira do G7, o grupo dos países mais industrializados do mundo, não inclui tarifas sobre o aço, um produto especialmente importante do comércio bilateral.

As empresas britânicas e o governo do Reino Unido foram apanhados de surpresa no início deste mês, quando Trump duplicou as tarifas sobre os metais para países de todo o mundo para 50%.

Mais tarde, Trump esclareceu que o nível se manteria nos 25% para o Reino Unido.

O presidente da Reserva Federal (Fed), Jerome Powell, disse na quarta-feira, numa audição semestral perante a Câmara e o Senado, que as tarifas de Trump provavelmente elevarão a inflação nos próximos meses.

A maioria das autoridades da Fed apoia o corte das taxas este ano, acrescentou Powell, mas o banco central quer observar como a inflação muda nos próximos meses.

"Haverá alguma inflação com as tarifas a chegar", disse Powell, após questões de membros do Comité Bancário do Senado, admitindo que por agora ainda não está a acontecer, "mas ao longo dos próximos meses".

Powell observou que as taxas provavelmente custariam centenas de milhares de milhões de dólares anualmente e "parte disso recairá sobre o consumidor", sendo que estão "apenas a aguardar para ver mais dados".

Alguns senadores republicanos criticaram Powell por caracterizar as tarifas como um potencial impulsionador da inflação.

O senador Pete Ricketts, republicano de Nebraska, argumentou que as tarifas poderiam simplesmente actuar como um aumento pontual nos preços que não alimentaria a inflação, enquanto o senador Bernie Moreno, republicano de Ohio, ecoou algumas das reclamações de Trump sobre a relutância de Powell em cortar as taxas e acusou-o de parcialidade política.

UE preparada para desacordo

Entretanto, presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, avisou hoje os Estados Unidos de que a União Europeia (UE) se está a preparar para a possibilidade de não haver um "entendimento satisfatório", prometendo defender os interesses europeus.

"Hoje, recebemos o mais recente documento dos Estados Unidos para prosseguir com as negociações e estamos a analisá-lo neste momento", começou por dizer Ursula von der Leyen, falando em conferência de imprensa após um Conselho Europeu dedicado em parte a assuntos de competitividade económica, em Bruxelas.

E afiançou: "A nossa mensagem de hoje é clara: estamos prontos para chegar a um acordo, mas, ao mesmo tempo, estamos a preparar-nos para a possibilidade de não se alcançar um entendimento satisfatório".

De acordo com a líder do executivo comunitário, a Comissão Europeia irá "defender os interesses europeus sempre que necessário" e tem "todas as opções em cima da mesa" para as negociações entre Bruxelas e Washington que decorrem até 09 de Julho.

Fontes comunitárias ouvidas pela Lusa apontaram que a UE ambiciona e ainda acredita num acordo com os Estados Unidos, rejeitando uma prorrogação do prazo por implicar discussões mais pormenorizadas.

As mesmas fontes adiantaram que a parte mais difícil das negociações se deve ao défice comercial norte-americano face ao bloco comunitário e ao interesse dos Estados Unidos em vender automóveis à Europa.

Presente hoje na conferência de imprensa, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, afirmou: "Um acordo é sempre melhor do que um conflito, e zero direitos aduaneiros é sempre melhor do que um direito aduaneiro".

"A incerteza é a pior coisa para a nossa economia e temos de avançar para dar certezas aos nossos investidores, aos nossos trabalhadores, às nossas empresas, o mais rapidamente possível", apelou.

António Costa defendeu ainda, como abordado hoje no Conselho Europeu, o "reforço da posição da Europa no palco mundial", e que para tal contribuirão "as próximas cimeiras com o Japão, a China e os países da América Latina, das Caraíbas e da União Africana, na segunda metade deste ano".

As tensões comerciais entre Bruxelas e Washington devem-se aos anúncios de Donald Trump de imposição de taxas de 25% para o aço, o alumínio e os automóveis europeus e de 20% em tarifas recíprocas ao bloco comunitário, estas últimas, entretanto, suspensas por 90 dias.

A suspensão acalmou os mercados, que chegaram a registar graves perdas, e foi saudada e secundada pela UE, que suspendeu, durante o mesmo período e até meados de Julho, as tarifas de 25% a produtos norte-americanos em resposta às aplicadas pelos Estados Unidos ao aço e alumínio europeus.

A Comissão Europeia, que detém a competência da política comercial da UE, tem optado pela prudência e essa cautela é apoiada por vários países da UE.

Bruxelas quer conseguir negociar com Washington, tendo já proposto tarifas zero para bens industriais nas trocas comerciais entre ambos os blocos.

Actualmente, 379 mil milhões de euros em exportações da UE para os Estados Unidos, o equivalente a 70% do total, estão sujeitos às novas tarifas (incluindo as suspensas temporariamente) desde que a nova administração dos Estados Unidos tomou posse, em Janeiro passado.

Segundo a instituição, está em causa uma taxa média de direitos aduaneiros dos Estados Unidos mais elevada do que na década de 1930.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,27 jun 2025 8:29

Editado porAndre Amaral  em  27 jun 2025 14:15

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