A revolução industrial impulsionou a urbanização, que por sua vez criou problemas relacionado com os resíduos sólidos (lixo), a ocupação desordenada do solo, a contaminação dos recursos fluviais...Pode-se eventualmente considerar que foi o arranque da poluição massiva do planeta. Tanto assim é que podemos arriscar a dizer que a Terra conta com 4,5 bilhões de anos de existência, mas só começou a ser poluída há cerca de 260 anos e nunca mais parou!
O sufoco do planeta
A Covid-19 poderá ter imitido um sinal claro de como é vital o equilíbrio entre o homem e a natureza e ao mesmo tempo veio provar o nível de destruição e da degradação do planeta Terra a um ritmo acelerado. Nos últimos 50 anos a globalização proporcionou um consumismo exagerado à escala mundial, estando actualmente a China na linha da frente do centro da produção mundial e como um dos cinco países mais poluidores do planeta seguido dos Estados Unidos, Índia, Rússia e o Japão. Ou seja, o crescimento económico desses países nas últimas cinco décadas tem sido alcançado, em parte, à custa da poluição, que expôs o nosso planeta a elevados riscos. Segundo dados avançados pela ONU, em 2021, as alterações climáticas custaram ao mundo 120 bilhões de USD em prejuízos causados por catástrofes naturais. É neste sentido que neste momento as questões climáticas encontram-se no epicentro das preocupações/prioridades das nações para o sec. XXI. Portanto, tudo indica que a economia passará a ser organizada dentro dos parâmetros ambientais e da biodiversidade. Por isso somam-se os alertas enviados pelos cientistas e pelas ONGs que o planeta se encontra em risco e que é preciso mudar de rumo. Na sequência desse risco elevado, em 2015 foi assinado o Acordo de Paris que lançou o primeiro alerta e apresentou um diagnóstico exaustivo sobre o nível de destruição do planeta. Já a COP-26 em Glasgow, em termos de narrativa política veio definir as regras para o mercado de carbono, mas que ainda se encontra a um ritmo muito lento na sua implementação. Os lideres mundiais teimam em não declarar uma “revolução verde” para contrabalançar a revolução industrial de 1760.
O precipício!
No continente africano tem-se assistido a permanentes e duradouras secas que têm alastrado a pobreza no continente e, por outro lado, inundações que arrasam quase tudo, ceifando vidas e que tendem a criar os primeiros desalojados ambientais, cujo futuro é muito incerto a cada dia que passa. Ora, o Médio Oriente prefere adiar o seu “slot” optando pela exploração exaustiva da economia do petróleo, até quando não se sabe, para no futuro colocar em risco a vida humana por escassez do bem mais precioso, a água. Do outro lado do Atlântico temos um continente americano fustigado pelos tornados e pelas cheias, cada vez mais violentas e arrasantes. Segundo o BAD (Banco Asiático de Desenvolvimento) o aumento da temperatura pode ameaçar a existência de alguns países da região e destruir qualquer esperança de um “desenvolvimento sustentável e inclusivo”. Um estudo da Universidade de Newcastle em parceria com o Met Office do Reino Unido, estimou que chuvas como as que atingiram a Alemanha e a Bélgica recentemente podem ser 14 vezes mais frequentes até o final do século, se mantidos os níveis de emissão de gases de efeito de estufa. Todos esses desastres climáticos têm afectado gravemente a produção/oferta alimentar no mundo, criando uma grande insegurança alimentar no planeta, com uma população a crescer exponencialmente em certas zonas do globo. Esta situação já está a afectar a produção/oferta de alimentos e água no mundo, a segurança, e está a criar ondas migratórias jamais vistas no passado.
A verdadeira tragédia
É preciso entender a filosofia política deste mundo, se é que dá para entender!... Segundo um documentário da BBC, os relatos são vários: a nossa fome para o “fast fashion” tem contribuído e muito para afundar o planeta. Cada ano são produzidas 100 milhões de toneladas de peças de vestuários globalmente, usando cerca de mil espécies de produtos químicos nocivos à natureza e em cada 5 peças produzidas e vendidas, 3 acabam no lixo. E como era de esperar não foi desta que a onda foi morrer a terra. Todos os anos são despejados nos oceanos cerca 190.000 toneladas de fibras de microplástico que são engolidos pelos peixes, e que depois acabam na mesa das pessoas, causando a morte de aproximadamente 20.000 pessoas por ano pela via do câncer. Uma autêntica tragédia! Pela mesma fonte ficamos a saber que 1,5 trilhões de litros de água são utilizados na indústria têxtil ao longo de cada ano e 2,6 % dessa água é potável e paradoxalmente 750 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a água potável. Contudo, 70 milhões de barris de petróleo são utilizados na produção de polyster, 10% dos gases de estufa globais são produzidos na indústria têxtil e ainda 70 milhões de árvores são cortadas cada ano para o fabrico do nosso vestuário. No que concerne a acidentes de trabalho, em 2013, 1.134 trabalhadores da indústria têxtil perderam a vida no colapso de uma fábrica têxtil em Oraka, Bangladesh, e 144 pessoas morreram devido ao incêndio numa fábrica no referido país e, contudo, essa classe, de uma forma geral e sobretudo em Bangladesh, trabalha 7 horas por semanas, 14 a 16 horas por dia, 96 horas por semana, e são pagos em média 2 a 3 USD ao dia.
Em suma, o que realmente faz a diferença, é a atitude individual de cada cidadão do planeta para com o planeta. Já é público que quem menos polui, mais sofre. Depois do impacto socioeconómico devastador da COVID-19 e quando menos se esperava, a invasão da Ucrânia pela Rússia, veio complicar ainda mais a equação da paisagem ambiental e humana. A guerra na Ucrânia não deixa de ser mais uma catástrofe ambiental e humana que assolou o planeta e provocou uma crise energética e alimentar sem precedentes. Que se volte a edificar os valores da saúde e da paz no mundo. It’s time...
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1060 de 23 de Março de 2022.