Coragem para Acreditar

PorLuís Carlos Silva,5 dez 2022 7:52

Luís Carlos Silva  - Deputado da Nação
Luís Carlos Silva - Deputado da Nação

Recebi, de um amigo, o texto “Agora é preciso coragem para ter esperança” do Mia Couto, que aborda a nossa relação com o tempo, a forma como “estamos tão entretidos em sobreviver que nós consumimos no presente imediato.

Para uma grande maioria, o porvir tornou-se um luxo. Fazer planos a longo prazo é uma ousadia a que a grande maioria foi perdendo direito. Fomos exilados não de um lugar. Fomos exilados da atualidade. E por inerência, fomos expulsos do futuro.”

“Exilados do Futuro”

Mia Couto alarga esta condição de “exilados do futuro” aos países, com enfase nos países africanos. Sentencia que “o amanhã tornou-se demasiado longe. Mais do que longínquo, tornou-se improvável. Mais do que improvável, tornou-se impensável”. Certamente que são inúmeros os motivos que concorrem para a definição desta identidade sociocultural, a começar pela nossa própria idiossincrasia na relação com o tempo e com o futuro, as nossas crenças religiosas que delegam no divino o poder de decisão sobre o futuro, mas, certamente, haverá também a presença de uma certa desilusão com processos políticos que não tenham sido capazes de aportar os resultados prometidos.

É óbvio que quem não vê o futuro terá dificuldades em esperar algo dele, portanto, tem pouca esperança. É esperado (diria até expectável) que o quadro atual - crises a se amontoarem - que expõem ainda mais as nossas fragilidades, aumentado a pobreza, o desemprego e a exposição de relevantes bolsas da nossa sociedade à extrema pobreza esteja a agravar, ainda mais, esta nossa relação com o futuro e nos coloque num contexto de ainda maior desesperança.

Caminho

Mas este não pode ser o caminho. Nós, enquanto agentes políticos, que assumimos o compromisso de construir um melhor futuro, temos a obrigação de estar na proa do processo de desenvolvimento, desbravar o futuro e projeta-lo para o país, sempre com o fito de gerar confiança. Este é o caminho, o único caminho. Depois de cumprir alguns dias de trabalho em algumas ilhas, sinto-me ainda mais entusiasmo e acreditando que o pior já ficou para trás. Pude constatar um país a se reanimar, uma economia a retomar, a todos os níveis, a dinâmica que vimos até 2019, em suma vejo uma sociedade a se esforçar e a conseguir voltar à normalidade.

A execução do Orçamento do Estado de 2022 tem sido bom e está a suplantar as nossas melhores expectativas. O saldo global projetado para 2022, foi de 14,1 milhões de contos negativos, mas a execução aponta para uma redução deste valor em 500 mil contos e a projeção, para 2023, é o reduzir em ainda mais 700 mil contos. A economia está a fazer uma boa retoma que nos enche de confiança para entrarmos em 2023. No primeiro trimestre crescemos 16,8%, no segundo alcançamos 17,7%. Com a época alta do turismo e, finalmente, com a agricultura a contribuir positivamente é expectável uma aceleração do ritmo no terceiro e quatro trimestres.

Otimismo e Confiança

Estamos a conseguir! O caminho agora é repor os equilíbrios macroeconómicos, repor a dívida pública e o deficit em rampa descendente, aumentar a mobilização endógenos das receitas, disciplinar e otimizar as despesas, aumentar o ritmo dos investimentos públicos, controlar a exposição aos riscos fiscais do Sector Empresarial do Estado e reforçar, com ainda maior convicção, a abertura da economia ao privado para que possamos acelerar o processo de desenvolvimento sustentável, aumentar o PIB per-capita e reduzir a extrema pobreza. Sim, não tenho dúvidas que o meu otimismo e confiança podem parecer excessivas tendo em conta clima de medo e contenção reinante, mas os nossos números me levam a isso: acredito na possibilidade de retoma à normalidade e encarro entusiamo a caminhada que podemos fazer. Independentemente dos riscos e dos desafios que o contexto encerra, não podemos permitir ter a nossa visão de futuro embaciada, temos a obrigação de: primeiro, acreditar que é possível; depois, projetar confiança à população; e por último, é nossa obrigação escrever uma narrativa, de confiança e de paixão pela caminhada. Não temos outra alternativa.

Processo de Retoma

O bom é que estamos a cumprir um bom processo de retoma e, para 2023, temos de trabalhar para: primeiro cumprir com as projeções do orçamento; e depois tentar os superar. É claro que os resultados que vamos aportar em 2023 vão depender do contexto externo, particularmente do caminho que a guerra seguir. Neste particular, consigo também ver sinais positivos e temos de manter a fé de que a guerra vai acabar e vai levar consigo esta crise inflacionária. Tenho dito que as nossas políticas de desenvolvimento para o país têm sede de normalidade. Ao mínimo sinal de normalidade vemos o país a crescer a um ritmo excecional. Prevejo porque recuso-me a ser um “exilado do futuro” e por acreditar que todo o processo de desenvolvimento tem início na capacidade de antever o futuro para que a possamos transpor em planos e depois o executar. É o que estamos a fazer, construir um futuro de mais e melhores condições, de mais igualdade de oportunidades, mais empregos, menos pobreza e um país livre de pobreza extrema. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1096 de 30 de Novembro de 2022. 

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Autoria:Luís Carlos Silva,5 dez 2022 7:52

Editado porAndre Amaral  em  27 ago 2023 23:29

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