Num contexto marcado por rápidas evoluções tecnológicas, sociais e culturais, é urgente renovar o sistema educativo cabo-verdiano. Essa renovação não só evita a estagnação do ensino, como também permite responder às exigências de um futuro dinâmico e imprevisível. É crucial actualizar as metodologias de ensino e os currículos escolares, integrando abordagens modernas de aprendizagem impulsionadas pelo avanço tecnológico e pela inteligência artificial.
Assim, é necessária uma transição para um modelo centrado no desenvolvimento de competências transversais como o pensamento crítico, a criatividade e a colaboração. Este novo paradigma deve garantir flexibilidade e resiliência, capacitando os alunos para resolver problemas, enfrentar incertezas e propor soluções inovadoras, de forma mais eficaz e dinâmica.
Este espaço presta igualmente tributo a personalidades como Cónego António Manuel da Costa Teixeira, Cónego António José d’Oliveira Bouças, José Lopes da Silva, Baltasar Lopes da Silva, António Aurélio Gonçalves, Guilherme Chantre, Maria de Lourdes Chantre, José Augusto Pinto, Júlio G. Évora, Dulce Almada Duarte, João Lopes Filho, Luísa Queirós e Leão Lopes. O legado destes mestres transcende a sala de aula, tendo inspirado sucessivas gerações a valorizar a cultura e a identidade nacionais.
Estes professores não foram apenas transmissores de saber; foram guias exemplares, preparando os seus alunos para os desafios da vida e contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento integral dos mesmos e para a construção de uma sociedade mais consciente e informada.
A presente reflexão resulta de seis décadas de experiência acumulada como aluno, professor e dirigente. Esta vivência permitiu uma visão abrangente das múltiplas dimensões do sistema educativo, sustentada pela prática no planeamento de conteúdos ajustados a contextos específicos, na formulação de políticas educativas e na investigação académica. Com isso, reafirma-se que a educação é um processo dinâmico, vivo e em constante evolução.
Repensar a Educação é, por isso, um apelo à inovação e à capacidade de adaptação. Convida-nos a re-imaginar práticas e estruturas pedagógicas, reconhecendo a educação como o alicerce do progresso individual e social. Apenas um sistema educativo que saiba evoluir poderá preparar as próximas gerações para um futuro repleto de desafios, mas também de oportunidades.
Ao abordar o sector da educação, é fundamental analisar diversas dimensões para compreender os impactos deste sector no desenvolvimento socio-económico do país. Primeiramente, é necessário avaliar o acesso à educação, analisando as taxas de matrícula e frequência em todos os níveis de ensino, desde a educação infantil ao ensino superior, e identificar desigualdades entre regiões urbanas e rurais, géneros, classes sociais e grupos marginalizados. A disponibilidade de infraestruturas escolares, como escolas, transporte, electricidade e acesso à internet, é um factor determinante.
A qualidade do ensino é outro aspecto crucial, abrangendo a formação e qualificação contínua dos professores, o tamanho das turmas e a relação professor/aluno, bem como a actualização dos currículos para atender ao evoluir de exigências do século XXI. Garantir a disponibilidade de recursos pedagógicos, como livros, materiais didácticos e tecnologia, e avaliar os resultados em exames nacionais e internacionais, como o PISA.
A inclusão e a equidade no sistema educativo exigem atenção a políticas que promovam a educação inclusiva para crianças com necessidades especiais, assegurem a igualdade de género e implementem programas de apoio social, como refeições escolares, bolsas de estudo e transporte gratuito. Já no âmbito do desempenho e dos resultados, é essencial monitorizar as taxas de alfabetização e literacia funcional, as taxas de abandono e repetência escolar, bem como os índices de conclusão nos diferentes níveis de ensino. A relação entre formação e empregabilidade também deve ser analisada detalhadamente.
O financiamento da educação requer uma avaliação do percentual do PIB alocado ao sector, da distribuição de recursos por nível de ensino e região, da sustentabilidade de programas e projectos educacionais e da dependência de financiamentos externos. O financiamento, está directamente ligado às opções de governança do sistema e às políticas educacionais, as quais devem ser analisadas à luz de um plano nacional de educação, que aborde o grau de centralização ou descentralização do sistema, a participação da sociedade civil no planeamento e monitorização e a transparência e eficiência administrativa, com especial atenção ao combate à corrupção.
O contexto sociocultural e tecnológico desempenha um papel determinante, considerando o impacto das tecnologias no ensino e na conexão com entidades externas. As ferramentas digitais e ensino a distância são hoje uma parte integrante do processo educativo. No entanto, há que atender à adequação da educação aos contextos culturais e linguísticos locais ao mesmo tempo que se garante a resiliência do sistema para enfrentar crises como pandemias, conflitos ou choques económicos.
Por fim, é indispensável compreender como a educação contribui para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), integrando a educação ambiental e a cidadania global e desenvolvendo competências para enfrentar os desafios climáticos e sociais. Esta abordagem integrada permite uma análise abrangente do sector educativo, identificando prioridades e delineando estratégias para um futuro mais inclusivo e sustentável.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1207 de 15 de Janeiro de 2025.