Artur Furtado, adversário de Judite Nascimento na segunda volta da eleição para o cargo de reitor da Universidade de Cabo Verde, pode avançar com a contestação aos resultados que reconduzem no cargo a reitora, desta vez com 52,7% dos votos.
Reagindo ao Expresso das Ilhas sobre os resultados desta segunda volta, que lhe deram 41,88% dos votos, Artur Furtado disse que a sua equipa está a analisar se avança com a impugnação formal do processo eleitoral.
“Estamos a estudar a hipótese de impugnar estas eleições. Questionamos todo o processo eleitoral. Estamos convencidos de que desde o início houve condicionamento, medidas tomadas que condicionaram os resultados”, diz.
O professor garante que a sua candidatura teve conhecimento de “ situações irregulares que só na véspera confirmamos mas, por ser já dia de reflexão, o tempo não nos permitiu intervir. Legalmente, não tínhamos como agir ”.
Furtado também refere que já antes, durante o processo eleitoral que se iniciou na primeira volta, houve “reclamações que não foram atendidas”.
Judite Nascimento, que disse ao Expresso das Ilhas encarar a sua vitória na segunda volta “com um sentimento proporcional de acrescida responsabilidade pois se trata de um voto de confiança claro da parte de 52.7% da Comunidade Académica”, reage "tranquilamente” às intenções da candidatura derrotada de impugnar a eleição. “Não me vou alongar sobre o assunto, respeito a posição do Professor Artur Furtado”.
Contudo, a reitora eleita não deixa de responder às acusações de que todo o processo, conduzido pela Comissão Eleitoral, tenha sido marcado por irregularidades.
“A nossa candidatura está tranquila quanto à forma como todo o processo foi desenvolvido. Tudo foi organizado e executado nos termos de um regulamento que foi aprovado pelo Conselho da Universidade, sendo este um órgão absolutamente independente da Reitoria e onde estão representadas as diversas sensibilidades, incluindo do Prof. Artur Furtado, candidato às eleições para o cargo de Reitor. Por outro lado, foi criada uma Comissão Eleitoral formada por pessoas idóneas e cujo trabalho foi desenvolvido em concertação permanente com os mandatários das candidaturas. Por conseguinte, todas e quaisquer reclamações devem ser remetidas a esses órgãos.”, diz.
Nascimento assegura que a sua candidatura agiu em “absoluto respeito pelos regulamentos e normas da Uni-CV” e quanto ao desempenho da Comissão Eleitoral deixa saber que só tem “palavras elogiosas a dirigir”, acreditando que “se manteve isenta e responsável, cumprindo escrupulosamente com o seu papel”.
Entretanto, a candidata eleita reconhece que a academia saiu fracturada do embate eleitoral, que teve ainda na primeira volta duas outras candidaturas (as professoras Corrine Almeida e Eurídice Furtado, que ficaram para trás, com 12,81% e 6,52%, respectivamente).
“Eu encaro também com muita seriedade a mensagem que me foi transmitida pelos que não votaram na minha candidatura. Neste momento vamos trabalhar firmemente para reconciliar a Comunidade Académica, que acabou dividida durante o processo de eleição”, diz Judite Nascimento.
Tentámos o contacto com o presidente da Comissão Eleitoral, Carlos Spínola, mas até ao momento não foi possível efectivar.
Entretanto, da leitura ao regulamento eleitoral da Universidade pública fica-se a saber que os resultados do processo consideram-se definitivos “quando dos mesmos não tiverem sido interpostos recursos ou com a decisão sobre os mesmos”. Por outro lado, as decisões da Comissão Eleitoral são passíveis de recurso, sendo este encaminhado em primeira instância ao reitor e em última instância ao Conselho da Universidade (que é presidido pelo reitor e é quem elege a Comissão Eleitoral).
Com o início do processo eleitoral, Astrigilda Silveira, vice-reitora da Uni-CV, passou a ocupar o cargo de reitora interina.