A decisão está tomada. Os onze cidadãos russos que tinham sido detidos pela PJ a bordo do navio que transportava 9,5 toneladas de cocaína vão ser levados a julgamento e podem ser expulsos do país.
O Ministério Público anunciou ontem que, depois de terminada a investigação, “deduziu acusação e requereu julgamento em processo comum e com intervenção do Tribunal Colectivo para efectivação da responsabilidade criminal dos onze indivíduos que, à data dos factos, exerciam funções no referido navio, por estarem fortemente indiciados da prática de 1 (um) crime de tráfico de estupefacientes agravado em co-autoria material e concurso real com 1 (um) crime de adesão a associação criminosa”.
MP quer expulsão dos marinheiros
Outra informação avançada pelo Ministério Público diz respeito à situação dos marinheiros detidos a bordo do ESER que, lê-se, deverão receber ordem judicial tendo em vista a sua expulsão de Cabo Verde.
No comunicado do Ministério Público é igualmente pedido que o navio seja declarado como perdido a favor do Estado de Cabo Verde assim como “todos os objectos, bens e produtos apreendidos no âmbito dos referidos autos, em especial, os telemóveis, computadores portáteis, telefone satélite e os equipamentos GPS, por terem servido para a prática do crime em causa, bem como os documentos apreendidos, utilizados na actividade ilícita ou resultado da mesma”.
Uma das maiores apreensões de sempre
A detenção dos onze tripulantes do navio ocorreu a 31 de Janeiro quando o ESER, um cargueiro de bandeira panamiana, atracou no porto da Praia para descarregar o corpo de um dos tripulantes que tinha falecido, de choque séptico segundo o relatório da autópsia, durante a travessia do Atlântico.
Alertada pelo MAOC-N, organização internacional que se dedica ao combate ao tráfico de droga por via marítima, a Polícia Judiciária apreendeu “260 fardos, com o peso bruto de 9570 kg contendo no interior desses fardos um produto, que submetido a teste rápido reagiu positivamente para cocaína” e deteve os restantes 11 tripulantes que estavam a bordo.
O navio tinha saído do Panamá em Dezembro do ano passado e tinha, como referiu a Polícia Judiciária, como destino o porto de Tânger, em Marrocos.
Segundo uma plataforma de monitorização online das rotas dos navios, terá sido um desvio na rota programada que alertou as autoridades.
A viagem acabaria por não chegar ao seu destino.
Depois de serem detidos pela Polícia Judiciária, o comandante do navio terá dito a Alexey Veller, deputado russo que esteve reunido com o comandante do navio na cadeia da Praia que, ainda nas Caraíbas, “foram abordados por três barcos com homens armados” e que estes os obrigaram “a levar a carga a bordo”.
Depois de presentes a tribunal os tripulantes do ESER ficaram em prisão preventiva. As 9,5 toneladas de droga foram incineradas poucos dias depois da sua apreensão e é uma das maiores apreensões de droga alguma vez realizadas a nível mundial.
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 924 de 14 de Agosto de 2019.