À entrada da bilheteira, um papel pede aos passageiros que tirem senha e aguardem na rua onde, debaixo de um sol quente, os tempos de espera são longos.
Maria Auxilia está desde ontem a tentar comprar um bilhete para regressar a Santo Antão, fala em falta de respeito para com os utentes. Acredita que a situação se agravou.
“Exigimos respeito. Sujeitaram-nos a uma situação que nem no tempo do 'Gavião' ou do 'Mar Azul'. Estou desde ontem a tentar comprar uma passagem para ir para casa. Vim fazer uma consulta e estou agora aqui de pé, sujeita a esta situação, como se não tivesses mais nada para fazer. Têm de resolver isto", exige.
Na mesma linha, Marino Rocha queixa-se da morosidade do serviço.
"Têm de fazer alguma coisa, perdemos muito tempo para tentar comprar um bilhete. Penso que deveria haver mais viagens e menos burocracias na compra de um bilhete. Perdemos quase um dia para tentar comprar um bilhete, é tempo a mais que perdemos, debaixo de um sol abrasador e permanecemos muito tempo de pé. Há que mudar alguma coisa”, aponta.
Com duas horas perdidas na fila de espera, João Fonseca afirma que a situação é complicada e que o serviço está muito pior, quando comparado com o período antes da entrada em vigor do novo sistema de transporte marítimo.
“Isto está um caos. Despiram um santo para vestir outros. A nossa situação era boa e creio que não se pode tirar aquilo que é bom para ficar pior. Isto está um caos, enquanto não houver a venda online a situação vai permanecer complicada. Antes era possível comprar um bilhete 20 minutos antes da saída do barco, sem qualquer problema. Desde o dia 15 para, comprar um bilhete, temos de estar à espera uma semana”, denuncia.
No cais, em São Vicente, a Rádio Morabeza constatou esta manhã as longas filas, que se têm repetido todos os dias.
João Fonseca fala em retrocesso e pede medidas urgentes para resolver a situação
“Isto é um retrocesso e dos piores. Quem de direito tem de ver a situação porque assim como está vão colocar em causa a economia de Santo Antão. Já deram cabo da economia da zona norte, com a retirada dos voos internacionais da TACV do aeroporto internacional Cesária Évora e agora isto. É um caos ver tanta gente, pessoas que madrugam, para tentar comprar um bilhete. Quer dizer, queremos é melhor, nunca pior”, alerta.
Tentámos obter informações junto da empresa concessionária sobre as condições do serviço, mas até agora sem sucesso.
O serviço de transporte público marítimo de passageiros e carga entre as ilhas entrou em vigor a 15 de Agosto e é gerido pela Cabo Verde Inter-ilhas, empresa criada na sequência da concessão do serviço de transporte marítimo de passageiros e cargas inter-ilhas.
O contrato de concessão foi assinado a 15 de Fevereiro, válido para um período de 20 anos, passível de renovação.
Neste momento, a linha São Vicente-Santo Antão é servida por um único barco, com três viagens diárias de ida e volta. Num passado recente, a mesma linha chegou a ser servida por dois ou mesmo três navios.