"Uma das primeiras coisas que nos alertou sobre o uso de máscaras foi essa questão da poluição, porque muita gente ainda não tem aquela cultura de limpeza, de não deitar lixo no chão", começou por dizer à agência Lusa, César Freitas, membro do Movimento Contra a Poluição em Cabo Verde (MCPCV).
Para o ativista, muita gente pode deitar uma máscara ao chão, pensando que vai ser recuperada por outras pessoas, tal como um lixo qualquer.
"Mas não, é um lixo contaminado. Desde o início mostramos a nossa preocupação com esse flagelo que antecipamos e que já está a acontecer, não só em Cabo Verde, mas no mundo inteiro", avisou.
O movimento é formado por várias organizações não governamentais, como a Quercus Cabo Verde, 350.CV, pescadores e mergulhadores profissionais, pescadores, pesquisadores, biólogos, entre outros ambientalistas nacionais e internacionais.
César Freitas disse que tem visto mais máscaras abandonas nas estradas rodoviárias, do que em bairros e outras zonas, e há uma explicação para isso.
"Muitos dos condutores, quando estão sozinhos no carro, tiram um lado da máscara e deixam outro lado pendurado, e aqui onde se conduz muito com a janela aberta, o vento entra, e já aconteceu comigo uma vez, tira e deita fora. E quando cair na estrada fica lá. Da estrada vai para o passeio, do passeio para as ruas e assim andando, se não for recolhido logo pelo pessoal de limpeza vai até chegar ao mar", descreveu.
O administrador da página do movimento disse que nas praias da ilha de Santiago ainda não há muitas máscaras, porque ainda estão interditadas: "Mas de certeza que se estivessem abertas ao público, iríamos encontrar máscaras e não seriam poucas".
Por outro lado, disse que há casos de descarte deliberado em outras zonas costeiras, por parte de pessoas que vão à pesca.
"Dói mais, é um meio agreste, completamente selvagem, no entanto deitam a máscara no chão. Numa cidade, se cair no chão há um serviço de limpeza e de recolha que, de uma forma ou outra, é capaz de ser recolhida, mas no meio ambiente agreste é um bocadinho difícil", lamentou Freitas.
Já ciente do problema e do mal que este lixo pode causas ao ambiente, os movimentos ambientalistas apostam na sensibilização das pessoas, para o seu uso correto, recolha e melhor forma de ser descartado.
Embora já comece a ser uma preocupação por causa também do possível contágio, o ambientalista salientou que, tirando as pessoas que não se importam e os casos acidentais, Cabo Verde está "num bom caminho".
Mas não tem dúvidas que as máscaras abandonas nas ruas vão ser uma constante no país, se não houver mais sensibilização, principalmente junto dos jovens, que disse têm mostrado "um bocado rebelde" e "estão a desafiar" a covid-19 de várias formas.
"E para eles, desafiar desta forma também, de descarte de máscaras no meio ambiente não custa nada, é uma coisa fácil. Então temos de ter uma preocupação na sensibilização", insistiu, dizendo que este trabalho deve ser também de todas as entidades governamentais.
A mesma opinião tem Melisa Alves, do movimento 350.CV, que tem por objetivo a defesa do ambiente e sensibilização da população para questões ambientais, atuando mais na área do lixo e plantação de árvores.
"Além de contaminar, é um lixo, é plástico, faz muito mal ao ambiente, tal como as garrafas e sacos de plástico, que já falamos muitas vezes sobre as suas consequências", apontou o membro do grupo, que desde o início teve a preocupação de divulgar informações sobre os perigos das máscaras cirúrgicas para o ambiente.
"Sempre foi uma preocupação chamar atenção da população, para cuidar ao descartar as máscaras, porque podem estar contaminadas", apelou, indicando que já viu máscaras pelos lados do Farol Maria Pia, na Praia, mas também em zonas de grande movimentação de pessoas.
Para Melissa Alves, o mais importante é sensibilizar a população, com mensagens e publicações, mas também incentivar as pessoas as utilizarem as máscaras comunitárias, que podem ser reutilizadas e que apresentam menos perigos para o ambiente.
Desde abril que a utilização de máscaras faciais é obrigatória em espaços interiores fechados com múltiplas pessoas em Cabo Verde, enquanto medida de proteção adicional ao distanciamento social, à higiene das mãos e à etiqueta respiratória.
Cabo Verde conta mais de dois mil casos positivos acumulados diagnosticados desde 19 de março, dos quais duas dezenas óbitos.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de centenas de milhares mortos e infetou mais de 15 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.