Depois de, recentemente, ter afirmado que o governo está à procura de parceiros internacionais para entrarem no capital da Cabo Verde Airlines, o ministro das Finanças disse, este fim-de-semana, numa entrevista à TCV que “é importante que Cabo Verde tenha uma companhia aérea”. “A questão accionista é secundária”, apontou quando questionado se o futuro da empresa passava pela nacionalização.
Regressando à importância de uma empresa como a Cabo Verde Airlines para um país como Cabo Verde, Olavo Correia apontou que “nenhum país com 500 mil habitantes consegue ser um país desenvolvido. Precisamos de mercado, de oportunidades e isso não pode ser pela via marítima, tem de ser pela via aérea. Particularmente na questão do turismo e não só por aquilo que tem a ver com o conceito de hub e de país plataforma que nós queremos implementar em Cabo Verde”.
Ainda segundo o ministro “temos de reconhecer que o modelo de negócios que nós tínhamos projectado para a parceria com a Icelandair, em decorrência da COVID, já não existe. Desapareceu”.
O ministro das Finanças recorda que aquando do estabelecimento da parceria com a empresa islandesa “ninguém tinha previsto a COVID. Ninguém estava preparado e nós temos de reconhecer que isto tem consequências. Não é só dizer que estamos perante uma crise. Isto tem consequências na vida das pessoas e das empresas, nomeadamente da Cabo Verde Airlines”.
Acrescentando, Olavo Correia avançou que o modelo de negócios preparado entre o Estado e a empresa “e que nos dava garantias de ser possível de montar com sustentabilidade já não existe. Pensar que vamos trazer pessoas do Brasil para o Sal para levar para Itália ou França, neste contexto, já não existe”.
Assim, no curto prazo, referiu o ministro, é necessário trabalhar para encontrar uma solução “que tem de ter três prioridades. A primeira tem a ver com o apoio à retoma económica de Cabo Verde. A segunda tem a ver com continuar a fazer a nossa ligação com a nossa diáspora e, terceira prioridade, temos de conectar os principais pontos do país com os hubs internacionais. Neste momento o modelo de negócio tem de ter essas três prioridades para que possamos ganhar tempo para ver como o mercado se reconfigura”.
Estas prioridades, frisou, “são as prioridades do governo” que terão agora de ser alinhadas “com as prioridades do parceiro ou dos parceiros que queiram criar com o governo de Cabo Verde uma solução para viabilizarmos a companhia aérea”.
Em caso de falência da Icelandair, uma possibilidade que não está posta de parte face às dificuldades que a empresa atravessa e face à recusa do Estado Islandês de auxiliar a companhia aérea, Olavo Correia voltou a dizer que a principal preocupação do governo “é manter a companhia a operar, porque precisamos de uma companhia em Cabo Verde”. “Não será possível um Cabo Verde desenvolvido, nos anos 20/30, sem uma companhia aérea que possa ligar Cabo Verde com o mundo. Portanto, tendo isto como prioridade, o governo tudo fará para encontrar uma solução”, concluiu o ministro.
As contas da Icelandair
Segundo o relatório e contas da Icelandair de 2019, a que o Expresso das Ilhas teve acesso, os resultados operacionais da Cabo Verde Airlines no primeiro trimestre de 2020 foram inferiores às expectativas. “A Cabo Verde Airlines está agora à procura de financiamento a longo prazo”, lê-se no relatório que avança igualmente que se esse financiamento “a longo prazo não for assegurado, poderá afectar negativamente a operação da Cabo Verde Airlines”. E, de uma forma mais abrangente, a empresa islandesa reconhece que se se verificarem desenvolvimentos negativos nas operações da Cabo Verde Airlines estes “podem ter um impacto ainda maior na operações da Loftleiðir Icelandic em 2020”.
Apesar da crise desencadeada pela pandemia de COVID-19, que forçou a uma paragem quase total das companhias aéreas a nível mundial, o documento da Loftleiðir Icelandic refere igualmente que “os resultados operacionais do último trimestre do ano [2019] foram inferiores às expectativas” e que no final de 2019 e apesar de, nessa altura, a empresa anda não estar exposta aos balanços da CVA, os resultados negativos das operações em Cabo Verde “poderão ter um impacto negativo nas operações de Loftleiðir Icelandic em 2020”.
Igualmente referido no relatório e contas da empresa está o plano de a Loftleiðir Icelandic alugar 4 a 5 aviões à CVA. No entanto, “se esses planos mudarem, isso poderá ter um impacto temporário no geração de receitas do Loftleidir islandês porque demoraria algum tempo a colocar o avião com outros operadores e tais esforços podem implicar alguns custos”.
A terminar, o documento da empresa islandesa relata que as receitas geradas pela Cabo Verde Airlines ascenderam a 37,2 milhões de dólares e as despesas a 1,1 milhões de dólares.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 973 de 22 de Julho de 2020.