Abordada pelo Expresso das Ilhas, Carina Almeida moradora de Achadinha, afirma que no seu bairro os moradores “não estão a cumprir completamente” as regras de distanciamento físico e “muito menos do uso das máscaras”.
“Em cada esquina é possível encontrar grupos de pessoas reunidas, como sempre foi e a maioria sequer usa máscara. Mas, fora do bairro, encontro as mesmas pessoas com máscaras e a fazer um certo distanciamento social. Se calhar é porque circulam mais pessoas e há mais autoridades para fiscalizar o cumprimento ou não das medidas”, pressupõe.
Todos da família dessa entrevistada usam, conforme revela, máscara ao sair de casa. Entretanto, revela, o padrasto que sempre encontra os amigos na rua, apesar de usar a máscara facial, não cumpre a regra de distanciamento físico.
“Penso que as pessoas não estão muito preocupadas com a questão do distanciamento social nem do uso das máscaras porque a COVID ainda não chegou a elas ou a pessoas próximas. Enquanto isso não acontecer não SE vão consciencializar. Se calhar, acham que a COVID não é transmissível e por isso estão muito confiantes e, por mais que as autoridades actuem, as pessoas não vão ouvir”, ressalta.
À semelhança de Carine, Nadine Florêncio residente em Ponta d’Água, conta que no início da pandemia as pessoas do seu bairro preveniam-se. Mas, ultimamente são poucos os que usam máscaras e menos ainda os que fazem o distanciamento físico.
“Fora de Ponta d’Água usam máscaras. Pelo menos é o que tenho constatado, mas penso que as pessoas não ligam muito em fazer distanciamento porque o país registou, até agora, poucas mortes, quando comparado a outros países. Eu já ouvi da boca de alguém que o vírus não pode com a nossa raça, que somos ferro curado”, refere.
Apesar do medo de contrair coronavírus, esta entrevistada reconhece que nem na própria casa cumprem, totalmente, as medidas. Isso visto que usam as máscaras e fazem o distanciamento apenas quando se deslocam para outros bairros, mais especificamente, Platô.
“Talvez porque ao sair da zona provavelmente vamos ter contacto com muitas pessoas de lugares diferentes. Dentro do nosso bairro é diferente porque convivemos com as mesmas pessoas todos os dias e confiamos que não vamos contrair o coronavírus, agora discriminamos as pessoas pelo bairro. Se for do nosso bairro, não deve estar infectada, se não for, mantemos distanciamento porque provavelmente está”, profere.
43 novos casos de infecção por SARS-CoV-2 em Cabo Verde
Cabo Verde registou 43 novos casos de infecção por coronavírus, nas últimas 24 horas. Os números constam do boletim epidemiológico, emitido na tarde desde sábado pelo Ministério da Saúde e Segurança Social. A maioria dos novos diagnósticos dizem respeito à Praia.
CMP quer incentivar o uso das máscaras nos bairros
Recentemente, a Câmara Municipal da Praia (CMP) apresentou o programa STOP COVID Praia. Com isso a edilidade pretende distribuir vinte e cinco mil máscaras comunitárias nos bairros de maior risco. A meta é até o final de Novembro sejam distribuídos, gratuitamente, 200 mil máscaras aos munícipes e reduzir assim a transmissão do vírus.
“Vamos actuar nos bairros porque constatamos que ali as pessoas não têm o hábito de usar máscaras. Saem de casa para falar com os vizinhos, sentam com os amigos para jogarem as cartas e não se protegem. Falamos de bairros como Eugénio Lima, Vila Nova, Ponta d’Água, Achada Santo António, Achada Grande Frente e Trás e Fontom. São bairros que estamos a priorizar nesta primeira fase do Programa, que depois será estendido a outros bairros”, garantiu Óscar Santos ao Expresso das Ilhas.
Para o presidente da CMP, o facto de as pessoas resistirem ao uso das máscaras não tem a ver com falta de fiscalização no local. “É mais uma questão dos indivíduos terem a consciência de que o uso das máscaras é importante”.
Na opinião de Óscar Santos, para que as pessoas usem as máscaras é preciso fazer um trabalho de sensibilização. Por isso, o programa STOP COVID Praia vai ser implementado através da distribuição de máscaras e explicação porta-a-porta, fixação de cartazes com conteúdos sobre a pandemia, além de spot televisivo e radiofónico.
“Uma vez que as pessoas consigam seguir os três conselhos básicos, usar máscara, fazer o distanciamento social e lavar frequente das mãos, tenho a certeza de que vamos vencer o vírus. Agora, se as pessoas não colaborarem, se resistirem à utilização das máscaras, resistirem ao cumprimento do distanciamento social os casos vão continuar a aumentar”, considera.
Para vencer o vírus, analisa o edil, não basta apenas a actuação das autoridades. É preciso haver uma mudança comportamental dos praienses.
“As autoridades têm actuado dentro de um quadro legal permitido, não estamos no estado de emergência e sim de calamidade que tem um conjunto de limitações legais e as autoridades não podem actuar fora do quadro legal permitido. O que está a faltar é mais campanha e mais pedagogia. Temos de apostar mais nisso, não temos outra alternativa”, enfatiza.
Com o programa, a CMP pretende, além de incentivar o uso das máscaras, diminuir a incidência do vírus na capital. “Estamos a falar de uma necessidade de conter a transmissão do vírus para que voltemos o quanto antes à normalidade. Para isso, todos, individualmente, temos de colaborar”, finaliza.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 977 de 19 de Agosto de 2020.