O comportamento suicida surge, normalmente, como consequência de uma doença psiquiátrica não tratada, como é o caso da depressão. No contexto da pandemia, o Psicólogo Nilson Mendes, pontua que é natural que haja um aumento de stress e ansiedade por conta das adaptações à nova rotina, até agravos mais profundos no sofrimento psíquico.
“É natural que saíamos do eixo, mas é fundamental que tenhamos autoconfiança, auto-estima. trabalhar o nosso controlo emocional é fundamental para fortalecer também a autonomia” refere.
Por outro lado, tanto a família como a sociedade, devem estar atentas a alguns sinais, como a tristeza excessiva, o isolamento, o silêncio e não envolvimento e participação nas actividades em casa ou interacção com pessoas próximas, pensamentos de incapacidade e negativas, a falta de esperança, queda de actividade ou concentração no trabalho e alterações de comportamento.
“Isto porque para uma pessoa com pensamentos suicidas, uma voz ou um ombro é fundamental para aliviar a sua dor, Por isso, além de ser a mão-amiga é fundamental aconselhar o outro a procura de ajuda profissional”, orienta.
Sinais apresentados por adultos
Conforme Nilson Mendes, um adulto apresenta sinais como, a pressão e a fadiga, o afastamento das pessoas próximas, deixando de se importar. Além disso, continua, passa a estar frequentemente triste e sem vontade para participar em actividades com os amigos ou fazer o que se fazia antigamente.
Um outro sinal é que um adulto com ideias suicidas pode comportar-se de forma diferente do habitual, como por exemplo o consumo excessivo de drogas, sobretudo com incidência no álcool. Também pode-se observar alteração da comunicação verbal sobrecarregada de problema de humor, ou seja, a pessoa deixa de entender o sentido de humor perante uma conversa.
Devido à crise provocada pela COVID-19 e do possível contexto de forte pressão pelo qual podem passar os adultos economicamente responsáveis pelas famílias, o psicólogo alerta que é necessário observar mudanças de comportamento.
“Nesta situação da pandemia do COVID-19, podem surgir outros sinais como o sentimento de desorientação, desespero tanto relacionado com a situação económica como a situação relacionada com a ruptura amorosa que correspondem também factores precipitantes para suicídios e ideia de suicídio, como aconteceu na história recente, vários homicídios e seguidamente suicídio”, explica.
Um outro factor, aponta, está relacionado ao alcoolismo. Nesse sentido, explana que ao falar da prevenção do suicídio é necessário também, consciencializar de uma forma profunda e responsável sobre os malefícios do alcoolismo na sociedade.
“Muitas vezes o adulto que se suicida, estava sob efeito de álcool ou outras substâncias químicas. O uso inadequado de substâncias psicoativas, como o álcool, é um dos factores predisponente dos suicídios e de tentativas de suicídios”, aponta.
E as crianças e adolescentes?
Segundo o Psicólogo todos, sem excepção são vulneráveis. Como exemplo, aponta os suicídios de um adolescente e uma criança no último mês, “é algo anormal” em Cabo Verde. Neste ponto afirma que “algo está a falhar”.
“Se formos fazer uma avaliação podemos ver que mesmo a nível da educação primária está a falhar, a informação está a falhar”, sublinha.
E no contexto da pandemia associado ao isolamento, as incertezas e o medo de perder entes queridos podem tornar vulneráveis crianças. Estas, podem apresentar sinais como irritação ou agitação excessiva, stress relacionado com a pressão dos pais, além de relatos de violência psicológica e física.
“Temos de trabalhar na educação e fazer o nosso papel de informar mais, temos de nos informar cada vez mais. Trabalhar na prevenção de suicídios, temos que também, que investir no fortalecimento emocional e na autonomia sentimental das pessoas no sentido de preservarem a sua auto-estima frente a qualquer situações na vida”, reitera.