Com muitas localidades longe da estrada, os pacientes têm que ser retirados de casa, por vezes em maca, descer escadas ou percorrer grandes distâncias em caminhos vicinais, até ao local onde podem apanhar o transporte que os levará à povoação, para serem inoculados.
É esse o relato de Nataniel Costa, residente em Andriene da Garça, a trinta minutos da estrada mais próxima.
“São quatro ou 5 pessoas que teremos que levar em maca para serem vacinados e somos poucos para fazer esse transporte, não vamos conseguir fazê-lo. Todos sabem onde fica Andriene, embora não venham cá. Sabem que é uma comunidade longe e de difícil acesso”, explica Nataniel, cuja avó, de 80 anos, em recuperação de um AVC, já foi contactada, mas falhou a vacinação porque não consegue deslocar-se até Ribeira Grande.
A mesma situação é relatada por Joana Silva. A mãe de 85 anos falhou a vacinação esta segunda-feira, devido às dificuldades de locomoção.
“Nós ficamos longe de estrada, o caminho é difícil para levar um idoso que não consegue andar, para levá-lo até à estrada, para apanhar o carro, fica-nos complicado. Tens que arranjar uma maca para levar a pessoa até onde se consegue apanhar o carro, é muito complicado”, observa.
Paulino Dias enfrenta o mesmo problema. Os pais têm 96 e 87 anos e vivem em Fajã de Domingas Bentas, uma comunidade sem acesso a viaturas, cuja ligação é feita através de escada sem condições.
“Isso tem sido uma preocupação para nós que temos parentes já com certa idade e com dificuldades de locomoção. É quase impossível para as pessoas daquela idade, e com aquela condição física, fazerem a caminhada até chegar à estrada”, alerta.
Paulino Dias defende que a vacinação dos idosos em Santo Antão tem que ter em conta o encravamento das localidades e a condição física das pessoas.
“Quem conhece o município de Ribeira Grande sabe que é um município bastante disperso e com muitas comunidades encravadas. Imaginamos a agonia dos familiares ou de pessoas que têm familiares dentro dessa condição, em regiões como Rabo Curto, Agriões, Aguada de Chã de Pedra, Figueiras, Ribeira Alta, Monte Joana, entre outras”, diz.
Contactado pela Rádio Morabeza, o Director Nacional de Saúde, Jorge Barreto, explica que a questão está a ser analisada. Uma das preocupações prende-se com os procedimentos para aplicação dos imunizantes.
“Estamos a estudar essa questão, porque é bastante delicada. A vacinação contra a covid-19 requer algumas medidas para que tudo possa correr bem. Uma dessas medidas é que a vacinação deverá ser feita num local em que existam condições para dar algum suporte, caso aconteça um efeito adverso. A outra condição é que a vacinação deve ser feita o mais próximo possível de um hospital ou de um centro que tenha condições, com pessoas capazes de fazer uma abordagem, caso aconteça algum efeito”, explica.
Segundo Jorge Barreto está a ser analisada a melhor forma de vacinar os idosos em comunidades remotas.
“Estamos a ver a melhor forma de vacinar essas pessoas que não conseguem realmente deslocar-se aos postos de vacinação. Exige toda uma logística. Tem que la ir o vacinador, o registador, têm que levar materiais caso aconteça qualquer coisa para fazer os primeiros socorros. Não é muito fácil”, acrescenta.
Segundo o Director Nacional de Saúde, há cerca de 50 mil idosos em todo o país, dos quais, mais de 3000 já foram vacinados.