Com a tomada de posse do novo Governo, Amadeu Cruz foi reconduzido no cargo de ministro da Educação. A seu lado, tem agora Eurídice Monteiro, que faz a estreia em funções governativas como secretária de Estado do Ensino Superior. A nova orgânica está a gerar expectativa.
Nas reitorias, a criação da secretaria de Estado do Ensino Superior foi recebida com satisfação. Para Judite Nascimento, reitora da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), a continuidade de Amadeu Cruz e a escolha de Eurídice Monteiro são boas notícias, especialmente se permitirem resolver problemas antigos.
“A definição clara de um sistema de financiamento para o ensino superior em Cabo Verde, com mais clarificação daquilo que é a comparticipação do Estado para as universidades públicas. Um segundo desafio tem a ver com a necessidade de constituição de um sistema nacional de investigação e inovação, definitivamente estruturado. Um terceiro desafio é podermos consolidar a política de acção social direccionada ao ensino superior, através das bolsas de estudo”, resume.
Com um ministro que transita do anterior para o actual executivo, o reitor da Universidade Jean Piaget não espera rupturas. Wlodzmierz Szymaniak está satisfeito com a indicação de uma secretária de Estado para o Ensino Superior. De Eurídice Monteiro, com trabalho feito na área da investigação, o responsável conta que possa ser uma aliada na definição de políticas para a pesquisa científica no arquipélago.
“A criação da figura da secretária de Estado e o facto de o cargo ser confiado a uma professora universitária, penso que é um bom sinal. Queremos ver na senhora secretária de Estado a nossa aliada nas políticas de investigação”, estabelece.
Tal com a homóloga da Uni-CV, Szymaniak apela a uma mudança na estratégia de atribuição de bolsas de estudo. No caso, o reitor da Universidade Jean Piaget levanta a hipótese destas passarem a ser reembolsáveis.
“O leque de pessoas abrangidas poderia ser maior e isso estimulava os estudantes a terem mais responsabilidade. É preciso que haja coragem política para dizer que nem tudo pode ser gratuito e cada cidadão tem que fazer os seus cálculos para realizar os seus projectos de vida”, preconiza.
Em São Vicente, o reitor da Universidade do Mindelo (UniMindelo), Albertino Graça, acredita na “sensibilidade” da nova secretária de Estado e espera que Eurídice Monteiro aposte na investigação.
“Já houve muitas promessas, muitas ideias, mas nada se concretizou até hoje. Não é que as universidades não façam investigação e ciência, mas é preciso fazerem muito mais”, almeja.
Depois de cinco anos em que o ensino superior foi parte da tutela da Educação, mas sem um interlocutor dedicado, a nova orgânica agrada ao reitor da UniMindelo.
“Tínhamos um Ministério da Educação, que já tem muita coisa para fazer, e não restava tempo para o ensino superior. Houve, não diria um retrocesso, mas uma estagnação. Espero que a nomeação da senhora secretária de Estado seja um reconhecimento de que este subsector não esteve bem representado. É motivo para estarmos com esperança de que o ensino superior vá ter um tratamento diferente e que iremos avançar com novas conquistas”, deseja.
Doutorada em Sociologia, Eurídice Monteiro é professora na Uni-CV. Além da actividade docente, tem investigado as áreas da democracia e processos políticos, sociais e culturais, numa perspectiva comparada.
______________________________________________________________
Professores à espera
A classe docente espera que o Ministério a Educação prossiga com a resolução dos pendentes dos professores. O Sindicato Nacional dos Professores, pela voz do vice-presidente, Nelson Cardoso, recorda que há compromissos por cumprir.
“Acreditamos que com a continuidade do actual ministro há condições para que se resolvam as questões pendentes, porque o próprio estabeleceu o prazo de ano e meio”, lembra.
Por seu lado, o Sindicato Democrático dos Professores está particularmente atento à situação dos professores universitários, esperando que a nomeação de Eurídice Monteiro ajude a resolver os problemas laborais deste grupo específico. A líder sindical, Lígia Herbert, defende um estatuto ajustado às ambições dos profissionais.
“Esperamos que a senhora secretária de Estado responda às expectativas dos professores universitários”, sintetiza a sindicalista, recordando que existem progressões congeladas desde 2017.
Estudantes alertam para dificuldades financeiras
Os estudantes do ensino superior relembram que “há muito trabalho a fazer”. Para o presidente da Liga das Associações Académicas Universitárias de São Vicente, Edy Cruz, mais do que cargos e quem os ocupa, o que conta é o trabalho desenvolvido.
“A expectativa é que as coisas corram bem e que muitos problemas que afectam o ensino superior possam ser resolvidos, principalmente no que tange ao financiamento dos estudos de cada estudante”, prioriza.
Para a Liga das Associações Universitárias de Santiago, as expectativas são altas.
“Existem muitas dificuldades que precisam de ser colmatadas, nomeadamente problemas de ordem financeira”, declara o líder associativo, Hélder Varela.
*com Fretson Rocha
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1018 de 2 de Junho de 2021.