Biosfera limpa praia em Santa Luzia para preparar época de desova das tartarugas

PorSheilla Ribeiro,19 jun 2021 8:03

Cerca de 100 voluntários da Biosfera Cabo Verde estiveram envolvidos numa campanha de limpeza na Praia dos Achados, na ilha desabitada de Santa Luzia, para preparar a chegada das tartarugas para a desova, época que se inicia agora neste mês de Junho. A campanha, orçada em cerca 8 mil euros, conseguiu recolher o triplo do lixo que é retirado anualmente naquela praia. A acção aconteceu de 24 de Maio a 13 de Junho.

Segundo Odair Cardoso, todos os anos a Biosfera realiza campanhas de limpeza na ilha de Santa Luzia para preparar as praias para o pico da desova de tartarugas que acontece no mês de Junho. Entretanto, devido à pandemia, a campanha não aconteceu em 2020.

A campanha deste ano, conforme Odair Cardoso em entrevista ao Expresso das Ilhas, teve um orçamento perto de 8 mil euros que foi usado em despesas de combustíveis para a deslocação do barco, alimentação dos voluntários e testes de COVID-19.

“Este ano havia muito lixo acumulado na Praia dos Achados. Por isso, optamos por fazer uma mega campanha envolvendo cerca de 80 voluntários divididos em quatro grupos com o máximo de vinte pessoas. Mais o staff da Biosfera, foram cerca de 100 voluntários envolvidos”, avançou.

Cada grupo, segundo o ambientalista, esteve na Praia dos Achados durante cinco dias a fazer a limpeza. A cada voluntário foi pedido um teste de COVID-19 negativo, 72 horas antes da viagem pago pela Biosfera em parceria com a Delegacia de Saúde de São Vicente.

O objectivo inicial da campanha, de acordo com o coordenador de comunicação da Biosfera, era conseguir limpar a maior área possível da Praia dos Achados, uma das praias com maior número de desova de tartarugas marinhas em Santa Luzia.

“A Praia dos Achados é afectada por lixo de todo o tipo, sobretudo proveniente de vários países do mundo. São, acima de tudo, plástico, redes e materiais de pesca que são descartados, às vezes por outros países da Costa Ocidental Africana e que vêm, por causa das correntezas marítimas, desembocar naquela praia”, explica.

Odair Cardoso informa que a ONG ainda não contabilizou a quantidade do lixo retirado naquela praia. Mas, salienta, que os dados serão apresentados em breve para que as pessoas tenham a real noção do lixo que vai parar a essa praia.

Desafio: retirar o lixo de Santa Luzia

Apesar das contas ainda não terem sido feitas, o ambientalista adianta que se trata de muitas toneladas de lixo retirado.

“O que nós fizemos neste momento foi armazenar todo o lixo retirado porque não conseguimos transporte. Trata-se de um trabalho gigantesco e de logística para conseguir transportar o lixo da reserva de Santa Luzia para São Vicente”, afirma.

A dificuldade em transportar todo o lixo, diz, está relacionada com a quantidade encontrada. Por esta razão, a Biosfera Cabo Verde construiu quatro depósitos para armazenar os resíduos em segurança.

“Como no ano passado não fizemos a limpeza, encontramos o dobro, para não dizer o triplo ou mais da quantidade do lixo que todos os anos encontramos nessa praia. Construímos quatro depósitos com pedaços de madeira que encontramos na praia para depositar o lixo em segurança sem correr o risco de o vento o atirar ao mar e para não haver novamente a vinda do lixo para as praias”, descreve.

Os resíduos foram cobertos com redes de pescas descartadas no mar, de modo a estarem compactas.

De acordo com este entrevistado, a Biosfera Cabo Verde já conta com o apoio da ENAPOR que vai ceder rebocadores para transportar o lixo. Ainda assim, a ONG terá de encontrar outra solução.

“Nomeadamente, como trans­portar o lixo da praia até a embarcação da ENAPOR já que ela não consegue atracar na ilha que não tem condições para que tal aconteça”, explana.

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“Ainda não há previsão para transportar todo o lixo recolhido em Santa Luzia, já sabíamos que íamos encontrar muito lixo, mas não estávamos à espera da enorme quantidade encontrada. São quatro depósitos que conseguimos construir com madeira”, enfatiza.

Em São Vicente

A Biosfera tem uma iniciativa chamada “São Vicente Costa Limpo”. O objectivo desta campanha é sempre limpar, no último sábado de cada mês, uma praia na encosta daquela ilha.

Entretanto, relata Odair Cardoso, por causa da pandemia, a ONG reduziu a sua intervenção em São Vicente, que pode vir a ser retomada perante a diminuição do número de casos e o aumento da vacinação da população.

“Como vai começar agora a época das tartarugas vamos iniciar, em São Vicente, acampamentos para se fazer a monotorização das praias para que as tartarugas tenham condições e segurança para fazerem a desova”, especifica.

“Aproveitamos para apelar a uma maior consciência da população, quando frequentar uma praia levar o lixo produzido e não deixá-lo na praia. Porque o vento, mas também os cães vadios acabam por espalhá-lo pela praia e quando o lixo se espalha pela praia acaba por ir parar ao mar e traz as consequências que conhecemos”, apela.

Em Santa Luzia os acampamentos com o primeiro grupo de voluntários já se encontram montados, desde a segunda-feira. Por sua vez, em São Vicente os acampamentos serão montados ainda esta semana com a presença de voluntários, monitores da Biosfera e outras organização da ilha que estão envolvidas na questão de protecção das tartarugas.

Os acampamentos vão permanecer nas praias até o mês de Outubro ou Novembro.

Captura de tartarugas

Segundo Odair Cardoso, a captura de tartarugas é um problema que ainda persiste em Cabo Verde apesar da existência de uma lei que criminaliza a apanha do animal.

“A Biosfera tem um instrumento, que é uma linha verde SOS Tartarugas, 800 1234, para as pessoas denunciarem casos de apanha das tartarugas nas praias. Quando denunciam, a Biosfera entra em contacto com as autoridades para se fazer efectivar a lei. Tem vindo a diminuir mas ainda persistem algumas situações”, complementa.

A Linha Verde para denúncias de actos ilícitos contra tartarugas marinhas e apanha de areia está activa desde Julho de 2020.

Dados divulgados pelo Ministério do Ambiente em 2020, dão conta que o país somou um recorde de ninhos, de quase 200 mil registados. Este número fez com que Cabo Verde se tornasse no segundo destino mais importante das tartarugas na época da desova.

Fundada em 2006, a Biosfera Cabo Verde é uma associação voltada para a defesa do Meio Ambiente, sediada em Mindelo.

A Biosfera foca na conservação das espécies de fauna e flora, na reabilitação de ecossistemas marinhos e costeiros, na sensibilização e educação ambiental e no desenvolvimento local.

A sua maior área de actuação tem sido as ilhas desertas de Santa Luzia e Ilhéus Branco e Raso onde desenvolveu a conservação activa no terreno e a vigilância contra a caça ilegal e outras perturbações humanas.

Nas restantes ilhas, a ONG tem apostado em programas de sensibilização ambiental e cooperação com as autoridades locais e nacionais. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1020 de 16 de Junho de 2021.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,19 jun 2021 8:03

Editado porFretson Rocha  em  31 mar 2022 23:20

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