Com os avanços da ciência, a maior disponibilidade de vacinas e um vírus que ainda circula entre nós, mutando-se amiúde, vão-se somando as doses vacinais para melhor protecção.
Primeiro contemplavam-se duas doses para completar o esquema vacinal (com excepção da vacina Janssen que requeria apenas uma dose), mas logo a comunidade científica provou a importância de booster (reforço). Passámos assim à 3.ª dose, ainda com pouca adesão em Cabo Verde, mas que se que ver generalizada.
Para isso, inclusive, o governo definiu já que o esquema vacinal apenas fica completo com esse reforço. Aliás, o próprio certificado de vacinação só é válido, desde 1 de Julho, nas “viagens interilhas e viagens internacionais com destino a Cabo Verde se a pessoa tiver tomado, pelo menos, uma dose de reforço há mais de 14 dias”.
Agora, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde, surge a recomendação de uma 4.ª dose.
“As pessoas ficam melhor protegidas contra a forma grave de COVID-19 quando o estado vacinal está em dia (ou actualizado), e isto inclui receber todos os reforços recomendados quando elegíveis”, alerta o Director Nacional da Saúde.
A recomendação, embora alargada a toda à população adolescente e adulta em geral, tem maior ênfase junto às populações que “não são capazes de formar e sustentar respostas imunes (de defesa) adequadas e para proteger populações de alto risco”.
Protege-se, assim, também os profissionais de saúde, permitindo que o próprio sistema de saúde se mantenha funcional “durante as vagas que vão surgindo devido às novas variantes e sub-variantes.”
Quase todos
Os estudos têm mostrado que, de facto, o 2.º booster aumenta a protecção. Em Janeiro, Israel tornou-se o primeiro país a avançar para este reforço, em maiores de 60 anos, e provou o aumento de anticorpos. Depois seguiram-se vários outros.
Apesar de todos recomendarem o reforço nos doentes imunossuprimidos, há diferenças etárias nas campanhas e recomendações. Por exemplo, neste momento, no Brasil, o 2.º reforço é dirigido a maiores de 40 anos (e profissionais de saúde), nos EUA a recomendação centra-se nas pessoas maiores de 50 anos, em Portugal arrancou em Maio a campanha de vacinação para maiores de 80 anos (seguindo as indicações da Agência Europeia de Medicamentos). Cabo Verde, como referido, coloca em destaque os maiores de 60 anos e imunossuprimidos, mas este booster está aberto a todos os maiores de 12 anos.
Nos últimos meses, o país viu o seu ritmo de vacinação descer– basta ver que mais de 98% da população adulta está vacinada com a 1.ª dose, cerca de 85% com a 2.ª, mas apenas 26, 2% recebeu a 3.ª (1.º reforço). As novas normas para as viagens interilhas deverão aumentar a procura, mas a verdade é que há ainda bastantes vacinas disponíveis e “não se pode dar ao luxo de desperdiçar doses”.
Daí que, havendo vacinas, pretende-se aumentar a imunidade de todos, tendo em conta, inclusive, que muitos imunizados tomaram o reforço há cerca de meio ano. “Há pessoas que não têm um risco acrescido de terem a forma grave da COVID-19, mas querem-se prevenir, porque a doença também pode ser grave em quem não tem factores de risco, embora seja muito menos frequente. Por isso, querem tomar a 2.ª dose de reforço. E eu penso que estas pessoas percebem muito bem a gravidade das consequências da pandemia em todos os seus aspectos, para além da saúde, por isso decidem continuar a seguir as recomendações”, expõe Jorge Barreto.
Infectados
A 4ª dose pode ser feita a partir de 90 dias após a 1.ª dose de reforço. O mesmo espaço temporal deve ser respeitado em caso de infecção ou re-infecção. Ou seja, 3 meses após o contágio é que se pode tomar vacina.
Entretanto, desde há algumas semanas, o número de infecções em Cabo verde, à semelhança do que acontece no resto do mundo, subiu em flecha, embora quase sem casos graves. Entre os muitos que já tiveram covid, uma boa parte considera que não é necessária mais vacinação, uma vez que a infecção também imuniza.
“Estas pessoas estão parcialmente certas, porque ter a infecção é a forma natural de ficarem imunizados. Contudo, tal como as vacinas, o nível dessa imunização/protecção vai diminuindo com o passar do tempo, o que torna a pessoa mais vulnerável outra vez”, explica o DNS. Assim, a recomendação é que tomem as doses de reforço. ”Mais vale prevenir do que remediar”, lembra.
Futuro
Quanto à vacinação de crianças entre os 5 e os 11 anos, há muito que Cabo Verde anunciou o intuito de proceder à mesma. De acordo com Jorge Barreto, tal deverá acontecer já este mês, após a chegada prevista para breve das respectivas vacinas.
Aliás, a promessa é de que Cabo Verde se manterá sempre atento à evolução dos estudos e evidências científicas, incluindo o surgimento de novas vacinas.
A Agência Europeia dos Medicamentos (EMA) espera introduzir vacinas adaptadas à Ómicron e suas sub-variantes já em Setembro (em Portugal deverão fazer parte das campanhas de vacinação de Outono, juntamente com a vacina contra a gripe) e a comunidade científica internacional espera que em 2023 já sejam disponibilizadas as chamadas vacinas de segunda geração. Estas vacinas, não só visam prevenir a doença, nas suas formas mais graves, e a morte, como reduzir exponencialmente as próprias infecções.
Neste momento, há cerca de 140 vacinas em fase de estudo clínico (ou seja, testadas em humanos) e quase 200 em estudo pré-clínico (testada em animais).
Sobre estas “novas” vacinas, as adaptadas e as de 2.ª geração, Cabo Verde ainda não tem informações, pelo que não há previsões feitas. “Apenas digo que, se houver oportunidade, é claro que faremos entender que desejamos receber o que de mais actual existir e estiver disponível, em termos destas vacinas”, garante Jorge Barreto.
E reforça o apelo à toma da vacina, lembrando: “doenças que outrora matavam crianças pequenas com facilidade agora já não”. Tudo isto, “por causa da vacinação”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1075 de 6 de Julho de 2022.