Conforme Dom Arlindo Furtado o governo agiu “bastante bem”, mas reconhece que é preciso continuar o trabalho com inteligência, pois o país encontra-se ainda num horizonte de incertezas. “Acho que devemos continuar a lutar para que cada um possa viver com maior dignidade, mas sobretudo do seu próprio trabalho. A ajuda humana é sempre necessária, mas fundamentalmente cada um deve viver do seu próprio trabalho e do seu rendimento porque nós temos capacidade. Mas temos que dar meios para formação das pessoas”, disse em entrevista à TCV no passado domingo (29), alertando, todavia, que temos que pensar no futuro e que não podemos estar a gastar o que temos disponível agora.
Viver com maior dignidade
“Vivemos ainda num mundo de indefinições. Acho que devemos continuar a lutar para que cada um possa viver com maior dignidade, mas sobretudo do seu próprio trabalho. A ajuda humana é sempre necessária, mas fundamentalmente cada um deve viver do seu próprio trabalho e do seu rendimento, mas temos que dar meios para formação, meios para trabalhar porque temos capacidade”.
Neste sentido Dom Arlindo deixou na referida entrevista a mensagem que se às Igrejas e ao Estado cabe a responsabilidade de ajudar as famílias a irem mais além sobretudo em termos de instrução e formação, a educação fundamental é um papel que cabe primariamente às famílias. “A educação de base que leva as pessoas a assumirem a sua personalidade, a dignidade e a sua postura na sociedade depende sobretudo das famílias. Portanto, não podemos descartar de forma alguma as famílias”, considera.
Ir ao encontro das famílias
Daí que, explicou, hoje mesmo os serviços do Estado e as ONGs lutam para que as crianças sejam educadas não apenas em instituições, mas, sobretudo, a partir das famílias. “Então como fazer? Ir ao encontro das famílias para lhes ajudar a assumir as suas responsabilidades. Mas a família é composta de duas pessoas: pai e mãe. Portanto, trata-se se de educar os homens a ter uma boa relação com a esposa, que é esposa e mãe; e educar as mulheres a terem uma boa relação com o marido, que é marido e pai. E os dois juntos não são demais para fazer dos filhos cidadãos do mundo, pessoas dignas que será uma bênção para a sociedade. Mas é o papel dos dois”.
A Cerimónia eucarística que teve lugar no Berço da Nação Cabo-verdiana, Cidade Velha, neste domingo, 29, promovida pela Igreja Católica e presidida pelo Cardeal Dom Arlindo Furtado foi um momento que marca o início do Decénio Jubilar dos 500 anos da criação da Diocese de Santiago.
“Conhecemos muito pouco a história da Igreja e a história do próprio País”
No âmbito do decénio da celebração da Diocese de Santiago, vai haver várias iniciativas, muitas delas têm a ver com a publicação de trabalhos científicos e de investigação.
“Durante este período de Decénio, uma das obrigações que teremos é aprofundar o conhecimento e sistematização da nossa história. “Conhecemos muito pouco a história da Igreja e a história do próprio País. Precisamos melhorar muito nessa linha. Temos 10 anos para preparar o Jubileu, mas até lá tenho a certeza que o Papa virá. Será Francisco? Será um outro? Deus providenciará”, vaticina o Cardeal.
Reportando-se à história desde os primórdios da descoberta de Cabo Verde e ao papel da Igreja Católica, o Cardeal recordou o trabalho evangelizador da Diocese de Santigo.
“O trabalho fundamental inicialmente foi sobretudo de os negros que eram trazidos como escravos e os colonos que chegavam como patrões e como senhores. Estes eram portadores de direitos e os outros só tinham deveres, mais nada”. Para Dom Arlindo então o papel da Igreja era fazer com que aqueles que se julgavam senhores dos direitos, também assumissem os seus deveres e as suas responsabilidades na relação com os outros e aqueles que eram obrigados a assumirem apenas os seus deveres, perceberem que para além desses deveres tinham direitos.
“Então houve necessidade de construir do zero esse equilíbrio social que nós vivemos hoje”. Então, prossegue o Prelado, a pouco e pouco, na vida fora da Igreja, fora do âmbito do culto, as pessoas começaram a entender que a nossa relação tinha que ser outra: não entre senhores e escravos. Isso revolucionou, a partir de dentro, relação entre senhores e escravos, até que o cabo-verdiano ganhou na nossa cultura essa ideia de que em qualquer parte do mundo ele sente-se igual a qualquer povo, a qualquer raça, porque isto está no nosso sangue, no nosso ADN e que a Igreja ajudou a construir a partir do início aqui em Cabo Verde”. Concluiu.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1105 de 1 de Fevereiro de 2023.