​PAICV alerta para decisões que podem pôr em causa a política externa de Cabo Verde

PorEdisângela Tavares,11 mai 2023 14:09

O PAICV alertou, hoje, o Governo no sentido de reflectir sobre algumas decisões que podem representar uma mudança “profunda” na política externa de Cabo Verde e que possa simbolizar uma mudança substancial com relação a todos os compromissos do país. Para o maior partido da oposição a política externa deve estar, prioritariamente, ao serviço dos supremos interesses nacionais e deve promover a credibilidade e a confiança na relação com outros Estados e Organizações.

O alerta foi dado em conferência de imprensa, na Cidade da Praia, pelo presidente do PAICV, Rui Semedo, que tem como base um pronunciamento, numa rede social, feito pelo o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, no âmbito de uma visita a Marrocos.

Segundo o líder do PAICV, o pronunciamento diz que "A visita ocorre num momento especial das relações entre Cabo Verde e Marrocos, com a formalização do reconhecimento da integridade territorial do Reino de Marrocos por Cabo Verde, entre outros iniciativas que reforçam a base política e diplomática para a exploração e o desenvolvimento da cooperação entre as duas nações".

Rui Semedo considerou que o conteúdo do referido pronunciamento, representa uma mudança profunda na política externa de Cabo Verde e simboliza uma mudança substancial com relação a todos os compromissos do país.

“Simboliza uma mudança substancial com relação a todos os compromissos de Cabo Verde, designadamente, no seio das Nações Unidas, onde está vinculado a um posicionamento formal sobre a processo da autonomia e independência da República Árabe Saaraul Democrática. Recorde-se que a partir do momento de um grande impasse criado pelas reivindicações do Reino de Marrocos e a guerra que se alastrava nesse território, susceptível de perigar a paz frágil daquela zona do Norte da África, a ONU decidiu pela consulta do povo saaraui, através de um referèndum, e Cabo Verde considerou realista e pertinente alinhar-se com esta posição desta organização. Por isso mesmo, o que se vive hoje, marca a descontinuidade com relação a posição assumida anteriormente por Cabo Verde”, elucidou.

O líder do maior partido da oposição defende que o posicionamento exposto pelo primeiro-ministro, põe em causa a última resolução das Nações Unidas sobre o dossier, a que Cabo Verde está vinculado, de dar voz ao povo saaraui para, em referendo, se pronunciar sobre o seu destino.

“Estranha-nos que uma decisão desta grandeza seja anunciada, por esta via não oficial, fora do país, sem um prévio diálogo ou debate com os cabo-verdianos e sem qualquer informação à oposição parlamentar, designadamente, ao PAICV. O Governo poderá escudar-se nalguns sinais e ziguezagues que tem dado com relação a este dossier, tão complexo como delicado, mas para nós esta é uma daquelas questões que deveria ser tratada com responsabilidade, com profundidade, com clareza, com coerência e com um elevado sentido de Estado”, defendeu.

O PAICV diz ainda que com o pronunciamento, o Governo põe em “crise” não só as posições adoptadas pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança da ONU, mas também parece ter feito vista grossa em relação a alguns artigos da Constituição da República que diz que o “Estado de Cabo Verde defende o direito dos povos à autodeterminação e independência, apoia a luta dos povos contra qualquer forma de dominação ou opressão politico, ou militar e participa no combate internacional contra o terrorismo e a criminalidade organizada transnacional."

“A política externa de um país, que sempre se destacou pelos seus posicionamentos claros, coerentes e inteligentes, não pode ser esta deriva permanente ao sabor do vento e das marés, guiada não por valores e princípios, mas sim por outros interesses que parecem não convergirem com os do nosso país. Parece que a nossa política externa estará a sofrer, neste momento, de algum desnorte que nos leva a tomar posições irreflectidas, pouco ponderadas, arrastando o país para situações incómodas e de difícil compreensão por parte daqueles que já estavam acostumados com uma diplomacia madura e inteligente por parte de Cabo Verde”, acrescentou.

O PAICV referiu ainda que, há poucos dias, uma aeronave russa viu recusado o seu reabastecimento na ilha do Sal, sem que o país fosse informado da real razão para a tal decisão e esclarecido devidamente de onde surgiu a ordem que impediu o abastecimento da aeronave.

“Sobre este acontecimento o PAICV, dada a sensibilidade desta questão, endereçou uma carta ao Senhor Primeiro-Ministro, solicitando informações, infelizmente, sem nenhuma resposta. Para o PAICV, a política externa deve estar, prioritariamente, ao serviço dos supremos interesses nacionais e basear-se nos princípios constitucionais, no cumprimento dos compromissos internacionais e deve promover a credibilidade e a confiança na relação com outros Estados e Organizações”, avançou.

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Autoria:Edisângela Tavares,11 mai 2023 14:09

Editado porAndre Amaral  em  5 fev 2024 23:28

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