O alerta da líder do Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP), Maria da Luz Lima, foi feito esta manhã em São Vicente na abertura do curso de capacitação sobre resistência aos antimicrobianos, dirigido a profissionais do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura e Ambiente.
“Temos que implementar um sistema nacional de vigilância da resistência antimicrobiana com foco na abordagem de uma só saúde, porque o que nós humanos estamos a queixar, a parte da veterinária também está a queixar. Então temos que unir esforços e isso aqui tem que ser uma realidade em Cabo Verde. Ter um laboratório de microbiologia ou mais, ou ter pelo menos um laboratório nacional de microbiologia, já que não é possível ter laboratórios em todas as ilhas, tendo em conta as especificidades das ilhas e a questão também que demandam os recursos para um laboratório de microbiologia, defende.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a resistência antimicrobiana ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas se modificam ao longo do tempo e deixam de responder aos medicamentos. Como consequência, as infecções tornam-se mais difíceis de tratar e aumenta o risco de propagação de doenças, incluindo as graves e de morte.
A presidente do INSP está a par das dinâmicas do problema global, pelo que espera a actualização, ainda este ano, do Plano Nacional Antimicrobiano, elaborado em 2018.
“Ainda estão sendo implementadas algumas atividades do Plano Nacional de Resistência Antimicrobiana, mas hoje em dia há desafios também mais actuais. Hoje em dia há orientações actuais que nós teremos que actualizar. Este ano esperamos realmente contar com todos para actualizar esse Plano Nacional de Resistência Antimicrobiana. Portanto, essa abordagem da nossa saúde visa coordenar e alinhar a investigação sobre a resistência antimicrobiana e facilitar a cooperação transdisciplinar e a coerência nas políticas nacionais dos diferentes sectores, desde a saúde, a agricultura, ambiente, inovação, etc”, refere.
Presente na abertura da formação, Flávia Semedo, ponto focal do Escritório da Organização Mundial da Saúde para a área das emergências e para a resistência aos antimicrobianos, explica que o fenómeno também tem uma ligação directa com os animais e o ambiente.
“Os animais adoecem, muitas vezes os antimicrobianos são utilizados para profilaxias, e quando usadas nas profilaxias a forma como são administradas não são as melhores e isto obviamente é um contributo para a resistência aos antimicrobianos. Da parte do ambiente temos a questão, por exemplo, da gestão dos resíduos hospitalares, nomeadamente dos antimicrobianos que, particularmente em Cabo Verde, ainda é um desafio, principalmente na forma como esses medicamentos são eliminados”, aponta.
As autoridades nacionais destacam a aposta na vigilância porque quando os medicamentos antimicrobianos se tornam ineficazes as infecções persistem no corpo, o que aumenta o risco de transmissão para outras pessoas.
Segundo a OMS, a resistência antimicrobiana continua a ser uma das principais ameaças globais à saúde pública e foi associada à morte de quase 5 milhões de pessoas em todo o mundo em 2019.