Na nota de pesar, endereçada à família, José Maria Neves destacou “a forma serena e douta como Júlio de Carvalho sempre exerceu as elevadas funções”, sendo “inspiração para todos os cabo-verdianos, especialmente para as novas gerações, e deve constituir um motivo de alento para a sua família”.
Durante a manhã, numa cerimónia realizada no quartel Jaime Mota, no Plateau, o Presidente da República recordou o antigo governante como "um dos obreiros da luta de libertação nacional, Combatente da Liberdade da Pátria e antigo Ministro da Administração Interna".
Júlio de Carvalho, morreu, terça-feira, na cidade da Praia, vítima de cancro, anunciou hoje a Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria.
"Durante toda a sua vida de luta", Júlio de Carvalho "evidenciou sempre um grande patriotismo, bem como um elevado espírito de sacrifício e dedicação em prol de Cabo Verde", referiu a organização, em comunicado, onde recorda a vida do antigo combatente.
O primeiro líder das Forças Armadas de Cabo Verde, mais conhecido como Julinho, nasceu na ilha de São Vicente, na cidade do Mindelo, a 27 de Janeiro de 1943.
Em 1961, viajou para Portugal para frequentar um curso de engenharia química e, em finais de 1964, sob a orientação de Pedro Pires (antigo Presidente cabo-verdiano e que hoje lidera a Fundação Amílcar Cabral), participou na mobilização de um grupo de cabo-verdianos, emigrantes em França, em torno do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Esteve no grupo que realizou uma curta preparação militar na Argélia, seguida de formação de guerrilha em Cuba, tendo em vista um desembarque em Cabo Verde para desencadear a luta armada, que não viria a acontecer.
Quatro anos depois, integrou a luta armada na Guiné-Bissau, como comandante de artilharia, na frente sul, onde participou activamente na tomada do quartel de Guiledge.
Após o 25 de abril de 1974, participou nas primeiras negociações com militares portugueses, visando o estabelecimento de um cessar-fogo na Guiné-Bissau, onde permaneceu durante cinco anos, exercendo as funções de "comissário político das Forças Armadas", indicou a associação.
De regresso a Cabo Verde, exerceria no país as funções de ministro do Interior e de ministro da Defesa e Segurança, sob governação do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) a cuja comissão política pertenceu.
Júlio de Carvalho fixou a sua residência na ilha do Sal, onde viveu nos últimos tempos como empresário.
Segundo informações avançadas pelo Estado Maior das Forças Armadas ao Expresso das Ilhas, o corpo de Júlio Carvalho foi hoje transportado para São Vicente onde será realizado o funeral numa data ainda a anunciar.