“É preciso averiguar, para já, duas coisas: primeiro, qual a profundidade em que se encontra o navio, para saber se realmente pode ser feita alguma coisa ou não com os equipamentos que temos em Cabo Verde. Fazer um levantamento para saber qual a quantidade desses hidrocarbonetos que está efectivamente dentro da embarcação. É preciso também fazer uma projecção ao nível das correntes daquela zona, para saber, no dia em que os hidrocarbonetos começarem a vazar, qual seria, mais ou menos, a zona impactada”, alerta.
Os detalhes sobre a profundidade a que se encontra o navio ainda não foram divulgados. No entanto, Tommy Melo alerta que, com os equipamentos atualmente disponíveis no país, não é possível descer além dos 70 metros de profundidade, o que poderá dificultar a eventual operação de remoção do combustível.
“Vimos na comunicação social dois navios de pesquisa de grande porte que andam pelas águas de Cabo Verde. Esses navios têm um grande aparato ao nível de equipamentos. Não sei até que ponto não poderíamos utilizar isso a nosso favor e como oportunidade para tentar fazer alguma coisa de imediato. Acredito que, com o equipamento que temos em Cabo Verde, não conseguimos descer muito abaixo dos 60/70 metros de profundidade, se for o caso”, diz.
Os hidrocarbonetos, nomeadamente os combustíveis e os óleos são materiais muito poluentes e causam graves danos ao ecossistema marinho, afectando a fauna e flora. O presidente da Biosfera avisa que um eventual vazamento de combustível pode causar um impacto significativo, não apenas na zona onde o navio se encontra, mas também em áreas circundantes, consoante as correntes marítimas.
“Se os hidrocarbonetos chegarem próximo da costa, o impacto pode ser grande, nomeadamente porque São Nicolau é uma ilha conhecida pela boa qualidade dos seus mariscos, por exemplo. Se forem correntezas que levem esse químico para longe, os impactos continuam a ser grandes, mas, pelo menos, já não são visíveis, digamos assim”, afirma.
O navio de carga Nhô Padre Benjamim afundou-se na tarde de segunda-feira ao Largo da Preguiça, durante a ligação entre as ilhas do Sal e São Nicolau. Todos os tripulantes e o único passageiro a bordo escaparam ilesos.
O Instituto de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos e Marítimos (IPIAAM) vai deslocar-se a São Nicolau para iniciar a investigação sobre as causas do naufrágio.
Em entrevista à Rádio Morabeza, Jorge Rodrigues, presidente do IPIAAM, diz que é importante aceder ao VDR (gravador de dados de viagem, também chamado "caixa negra") para reforçar tecnicamente a investigação. Contudo, admite que tal pode não ser possível, já que as primeiras informações indicam que o navio se afundou numa zona de grande profundidade.