O ex-presidente do conselho de administração da TACV-Cabo Verde Airlines considerou “clandestina” a mesma carta, já que, de acordo com as suas palavras, ninguém do conselho de administração a conhecia, pelo que, segundo ele, o antigo chefe do Governo “devia divulgar a referida carta, bem como o seu conteúdo”.
Adalberto Silva fez estas declarações durante a audição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada com o objectivo de se apurar a verdade sobre a gestão da transportadora aérea cabo-verdiana.
Na sua intervenção, enquanto membro da CPI, o deputado Luís Carlos Silva, eleito nas listas do MpD, fez saber que a citada missiva, com data de 09 de Fevereiro de 2001, havia sido dirigida ao então chefe do Governo e que a mesma vem publicada no livro do jornalista Júlio Vera Cruz Martins, sobre a TACV.
A carta, de acordo com o presidente da CPI, Emanuel Barbosa, fora assinada por 22 trabalhadores da companhia aérea de bandeira.
Apesar dos esclarecimentos, o antigo gestor da TACV insistiu na pouca importância daquela missiva.
“Uma carta subscrita por 22 trabalhadores, num universo de mais de 700, tem a relevância que tem”, indicou Adalberto Silva, acrescentando, porém, que, quando soube da existência dessa carta, estranhou, porque nessa altura “não havia razão de fundo” porque “não havia um clima de descontentamento por parte dos trabalhadores”.
Para o parlamentar Luís Carlos Silva, os subscritores da carta tinham alguma preocupação, porque, por um lado, estavam perante “resultados negativos de 200 mil contos” e, por outro, porque o cenário da privatização da companhia de bandeira os preocupava.
Instado sobre o impacto da introdução dos aviões ATR na frota da TACV, Silva considerou que foram “tão bons” e com “resultados muito positivos” nas contas da TACV, “o que levou à aquisição de um terceiro aparelho do género”.
O deputado Walter Évora, eleito nas listas do PAICV, pediu a Adalberto Silva informações sobre a venda dos aviões Casa, ou seja, se as contrapartidas foram recebidas, pelo que o então PCA da TACV afirmou que se trata de um problema anterior à sua gestão, mas que, segundo informações que obteve, “todas as condições foram acauteladas” e que, posteriormente, aconteceu um “factor externo incontrolável” tanto por parte de Cabo Verde como da companhia, que “foi a guerra no Congo”.
“Havia um plano de pagamento, mas depois foi perturbado com o eclodir da guerra no Congo e como consequência dessa guerra foi a destruição de um dos aviões”, precisou Adalberto Silva, para quem o conflito, nessa altura, “fez com que os tribunais deste país funcionassem com dificuldades”.
Admitiu, entretanto, que durante o período da sua gestão “não houve nenhum avanço em termos de recuperação do produto da venda que sobrava (dos aviões “Casa”) e depois não sei o que aconteceu após a nossa gestão”.
“O processo da venda foi normal, com um plano de pagamento que começou a ser cumprido, mas interrompido com o eclodir da guerra”, revelou Adalberto Silva, estribando-se nas informações que afirmou ter tido acesso na altura.
Segundo ele, a administração que o antecedeu entendeu que a compra dos aparelhos “Casa” foi um “mau negócio” por serem aviões “não muito apropriados para as condições de exploração em Cabo Verde e que é uma das razões que terão levado à situação difícil da companhia no final da década de 80”.
Confrontado pelo deputado do PAICV, José Sanches, com as declarações do também antigo PCA da TACV, João Ramos, segundo as quais três meses antes de assumir o comando da companhia, um Boeing teria ficado na pista, em Paris, (França) com passageiros a bordo, “horas à espera, porque a TACV não tinha dinheiro para combustível”, Adalberto Silva respondeu que não teve conhecimento desta situação.
“Enquanto estive a assumir a presidência dos TACV, não tive conhecimento de nenhum Boeing ter parado em Paris por causa da falta de combustível”, desmentiu Silva, acrescentando que se tivesse havido tal situação, a comunicação social cabo-verdiana teria dado conta disso.
Questionado sobre a sua relação com o MpD, quando foi nomeado gestor da TACV, respondeu que nunca foi militante desse partido, não obstante ter sido deputado eleito nas suas listas “durante várias legislaturas”.
“Ainda muito jovem, com 29 anos, antes da mudança do regime, já era director-geral de uma empresa mista, de capital público e privado, portanto antes de pensar em assumir um cargo político”, esclareceu, para depois concluir que nunca foi militante de nenhuma organização de cariz politico.
Entretanto, para hoje estava prevista a audição do comandante Eduíno Moniz, na qualidade de ex-administrador da TACV, mas não foi possível porque este faltou ao convite da CPI.