A primeira zona escolhida para a construção do porto de águas profundas, em São Vicente, tinha sido a zona do Lazareto, no Mindelo. Um projecto da ENAPOR que o governo rejeitou, em Março do ano passado, justificando a decisão com o facto de aquela zona não ser a ideal para a construção de uma infraestrutura com aquelas dimensões.
“Um outro local, sim, e é nesse sentido que vamos tentar materializar a ideia”, avançou, na altura José Gonçalves, ministro da Economia Marítima, citado pelo Mindel Insite.
Retomando o assunto, na semana passada, aquele online, sediado no Mindelo, avançou, a propósito de declarações de José Gonçalves, que, afinal, a escolha para a construção do porto de águas profundas tinha recaído na zona de Saragaça, também em São Vicente. Uma informação que o ministério da Economia Marítima desmentiu de imediato dizendo que “essa afirmação não corresponde e não pode ser, objectivamente e em boa-fé, deduzida das declarações feitas pelo Ministro, o Gabinete do Ministro considera e declara publicamente que essa informação feita pelo editor do Mindelinsite é inexacta e inglória, pelo que solicitamos o esclarecimento da mesma e a reposição das declarações correctas do ministro sobre o assunto abordado com toda a comunicação social”.
São Vicente? São Nicolau? Os dois?
Na terça-feira, um texto de Olavo Correia, publicado no Facebook, mostrava a vontade de construir um porto de águas profundas em São Nicolau.
“Porto de Águas Profundas em São Nicolau (ilha onde nos encontramos a cumprir uma visita de três dias) - nesta matéria reafirmo o que disse o senhor Primeiro Ministro de que uma das hipóteses que está sobre a mesa no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável de Cabo Verde (PEDS) é de facto este projecto.
E até onde for possível, o Governo vai mobilizar o sector privado para converter aquilo que está no nosso Plano Estratégico em realidade”.
Ontem, também no Facebook, o Primeiro-ministro esclareceu as duvidas que tinham surgido e voltava a colocar em cima da mesa a possibilidade de São Vicente num projecto que traz “complementaridades positivas entre as ilhas do Norte”.
Saragaça, como explicou o chefe do Governo é a zona que, de acordo com os estudos técnicos, vai albergar a logística de terminal de contentores, reparação e construção naval e restantes estruturas de apoio e suporte à indústria da economia marítima, inseridos no projecto da ZEEM.
Já o porto de águas profundas, refere ainda na mesma publicação, está identificado como a infra-estrutura âncora para as restantes actividades, por isso, Saragaça será dotada dessa infra-estrutura.
“O facto de se prever um porto de águas profundas em São Vicente, não significa que em São Nicolau não se preveja um porto de águas profundas vocacionado para suporte a actividades de ‘bunkering’ e refinaria. São portos com especialização e vocação diferentes”, defendeu o chefe do Governo.
Ou seja, a construção de um porto de águas profundas em São Vicente, não obriga ao abandono da ideia de São Nicolau e vice-versa. Para Ulisses Correia e Silva, está em causa a evolução da Zona Económica Especial Marítima em São Vicente que engloba a questão do porto, da pesca e de toda a actividade a montante a jusante da economia marítima. Um projecto que, garante, irá incluir São Nicolau dentro da estratégia.
De recordar que o tema do porto de águas profundas em São Vicente é 'matéria sensível' e causou polémica durante a campanha das eleições legislativas quando o cabeça de lista do PAICV por São Vicente, Manuel Inocêncio Sousa, num comício no Mindelo, anunciou que o governo da altura tinha conseguido financiamento para a construção daquela infraestrutura. A informação foi depois desmentida por Carla Montesi, directora da DEVCO (Directorate-General for International Cooperation and Development) da União Europeia que disse que “Direcção-Geral da Cooperação Internacional e Desenvolvimento da Comissão Europeia não tem conhecimento de nenhum financiamento no âmbito da cooperação entre a União Europeia e Cabo Verde ou com a região da CEDEAO para construção de um porto de águas profundas no Mindelo, Ilha de São Vicente, Cabo Verde”.