Eleita em 26 de Maio, Mónica Semedo, de 35 anos, esteve reunida com o ministro de Estado e dos Assuntos Parlamentares, na Embaixada de Cabo Verde no Luxemburgo.
“N ka ta papia kriolu dretu” [não falo bem crioulo], mas tento, tenho uma boa pronúncia”, brincou a eurodeputada, explicando que com a mãe fala “uma mistura de luxemburguês, francês e algumas palavras em crioulo”, mas percebe “tudo o que ela diz”.
No final do encontro, a ex-apresentadora de televisão elogiou o arquipélago e prontificou-se a apoiar a cooperação europeia com o país.
“Cabo Verde é um país exemplar. É um país muito especial, com muita diversidade, uma mistura de África e da Europa, que eu adoro. E como nasci no Luxemburgo, que é também um país de diversidade, adoro a ligação entre os dois países e quero reforçá-la”, disse à Lusa.
A eurodeputada disse ainda que gostaria de contribuir para a integração dos jovens cabo-verdianos no país.
“Queremos fazer avançar a comunidade cabo-verdiana aqui no Luxemburgo e também os cabo-verdianos nas ilhas, sobretudo os jovens, para os ajudar a encontrar emprego e assegurar um futuro a esta sociedade”, precisou.
Quem é Mónica Semedo, a cabo-verdiana que foi eleita para o Parlamento Europeu?
Mónica Semedo, filha de imigrantes cabo-verdianos no Luxemburgo, foi eleita domingo para o Parlamento Europeu. A sua história é de superação. Monica Semedo, que tinha falhado a eleição para o Parlamento luxemburguês nas últimas legislativas, em Outubro, foi agora a segunda eurodeputada eleita pelo partido liberal (DP), do primeiro-ministro Xavier Bettel, o grande vencedor destas eleições, conquistando mais um mandato do que em 2014.
A eurodeputada, que trocou uma carreira como apresentadora e jornalista do canal de televisão RTL pela política, foi embaixadora da organização não-governamental Aldeias de Crianças SOS, e as visitas que fez a Cabo Verde marcaram-na.
“A viagem que fiz, ainda como jornalista, em 2007, para visitar o projecto em Santiago e São Vicente, abriu-me os olhos. Às vezes penso no que seria se a minha família tivesse ficado em Cabo Verde, não sei qual teria sido a nossa situação, mas se fosse o caso, gostaria de ter tido o mesmo apoio”, contou.
A mãe de Mónica Semedo, chegada ao Luxemburgo no início da década de 1970, esteve com ela na sede do Partido Liberal (DP) na noite das eleições europeias de Maio passado, e ficou orgulhosa com a filha. A eurodeputada garante que é recíproco.
“Eu estou ainda mais orgulhosa da minha mãe, porque ela conseguiu criar cinco crianças sozinha, após a morte do meu pai”, quando tinha nove anos, disse à Lusa.
“Apesar de a vida como empregada de limpeza ser muito dura, com cinco filhos, ela nunca disse ‘não aguento mais’, disse sempre ‘ok, é preciso continuar’, e trabalhou noite e dia. A minha mãe é o meu ídolo”, afirmou.
A eleição foi motivo de “muito orgulho” para Cabo Verde, disse à Lusa o ministro Elísio Freire, considerando que é “um símbolo da verdadeira integração dos cabo-verdianos no Luxemburgo mas também na Europa”.
“Temos uma parceria especial com a União Europeia, e termos uma eurodeputada com origem em Cabo Verde dá naturalmente mais força a essa parceria”, afirmou.
O ministro elogiou ainda o Grão-Ducado, “um país aberto e tolerante”, considerando que “tem sido um grande parceiro” e que “é um país especial para Cabo Verde”.
“Há um programa muito forte com o Luxemburgo na área da formação profissional, da educação e do desenvolvimento local, que nós queremos reforçar”, explicou.
Mónica Semedo nasceu no Grão-Ducado em 1984, filha de imigrantes cabo-verdianos de Santa Catarina, na ilha de Santiago.
A mais nova de cinco irmãs, participou num concurso de escolas com três anos, gravando um disco, e começou a apresentar um programa infantil no canal de televisão RTL com 12 anos.
Com dois anos, ela e as irmãs foram colocadas num lar para crianças, onde acabariam por ficar durante cinco anos, por razões familiares de que prefere não falar.
“O importante é que a minha mãe lutou por nós e conseguiu criar-nos sozinha, e é por isso que a admiro”, disse.
O pai, professor em Cabo Verde, trabalhou nas obras no Luxemburgo e morreu num acidente de viação quando Monica Semedo tinha nove anos.
Depois de falhar a eleição para o Parlamento luxemburguês nas últimas legislativas, em Outubro, Semedo, licenciada em Ciências Políticas pela Universidade de Trier, na Alemanha, foi a segunda eurodeputada eleita pelo DP, o partido do primeiro-ministro Xavier Bettel.