“A população da Boa Vista acordou satisfeita porque demos um grande passo”, começou por dizer José Luís Santos, em declarações à agência Lusa, lembrando os “longos dias de muita privação” impostos à ilha, primeiro com o isolamento em 20 de Março, e depois com o estado de emergência a partir de 29 de Março, que terminou às 23:59 de quinta-feira.
A ilha da Boa Vista registou o primeiro caso da covid-19, em 19 de Março, um cidadão inglês que viria a falecer dias depois, e a 20 do mesmo mês foi posta em isolamento das restantes ilhas, para depois entrar também em estado de emergência.
Até hoje, a ilha registou 56 casos da doença, do quais 47 recuperados, um óbito, dois doentes transferidos para seus países, e tem apenas seis casos activos, em isolamento hospitalar.
Para o autarca, esses dados revelam um “grande trabalho” de toda a população, que considerou ser a “grande vencedora”, porque colaborou e consentiu sacrifícios.
“Por isso é que tivemos, conjuntamente, esta grande vitória”, disse o presidente, sublinhando, porém, que a saída do estado de emergência não significa saída da emergência sanitária.
“Não devemos baixar a guarda. A população da Boa Vista deve manter-se muito atenta e observar todas as recomendações das instâncias públicas e das autoridades sanitárias para evitarmos uma segunda vaga da pandemia na ilha”, apelou o autarca.
Com cerca de 18 mil habitantes, a Boa Vista depende quase exclusivamente do turismo, em mais de 80%, e com a pandemia todas as empresas e instâncias turísticas foram fechadas, com o autarca a entender que a ilha vai ter “muita dificuldade” em retomar a sua vida normal.
Nas declarações à Lusa, José Luís Santos adiantou que a ilha vai regressar paulatinamente à vida normal, na construção civil, restauração e outras actividades, mas ainda com muitas restrições.
“Mas enquanto estiverem fechadas as portas dos hotéis e das instituições ligadas directamente às actividades turísticas, a ilha da Boa Vista vai sentir um bocado o peso desta situação”, afirmou.
Boa Vista registou o último caso de covid-19 a 27 de Abril e os seis casos activos estão internados, mas o presidente da Câmara Municipal entendeu que “ainda é cedo” para realizar ligações marítimas com outras ilhas.
“Devemos aguardar mais uns dias para começarmos a ligações com o Sal, com São Vicente e com as outras ilhas, porque nós queremos é sair dessa situação com segurança. Não queremos pôr em risco outras ilhas”, afirmou.
O momento mais marcante e conturbado da ilha aconteceu em 15 de Abril, quando foram diagnosticados 45 casos de covid-19 num só dia, de funcionários que estavam de quarentena num hotel e que tinham saído quatro dias antes, passando totalizar 52 casos na altura.
Para o autarca, “as autoridades aprenderam a lição e tomaram medidas seguras e mais arrojadas no sentido de evitar que situação do tipo voltasse a acontecer” e a população soube interpretar todas as recomendações transmitidas pelas autoridades.
“A população e as autoridades souberam pegar o touro pelos cornos, por isso é que conseguimos todos juntos esta vitória”, insistiu a autoridade máxima da também conhecida por “Ilhas da Dunas”.
A nível social, José Luís Santos disse que a autarquia tem assistido todas as famílias, com distribuição de cestas básicas porta a porta, contando com parceria e solidariedade de particulares e de empresas locais e nacionais.
E garantiu que este programa é para continuar, já que a ilha depende quase exclusivamente do turismo e, mesmo saindo do estado de emergência, ainda continua com algumas restrições impostas pelas autoridades, nomeadamente no que diz respeito à circulação de pessoas.
Boa Vista é uma ilha eminentemente turística, mas tem alguma agricultura e criação de gado, sobretudo nas zonas rurais e na zona norte, mas José Luís Santos disse que o grande problema se põe a nível da água, para aumentar, diversificar e incentivar mais gente a essas atividades.
O presidente disse, entretanto, que a autarquia já está a trabalhar essa questão com a empresa Águas e Energias da Boa Vista (AEB), no sentido de delinear estratégias para levar mais água e com maior qualidade à zona norte.