José Maria Neves, no seu discurso no jantar oficial de boas vindas ao Chefe de Estado de São Tomé e Príncipe, Carlos Manuel Vila Nova, sublinhou a estreita relação histórica, secular e de excelência, que une Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
“São esses laços históricos e o entrelaçamento das duas culturas que aproximaram os nossos dois povos, criando mútuo afecto e sentimento de dupla pertença. Cabo Verde está aberto e disponível para a troca de pontos de vista sobre as melhores formas e modalidades de ambos os países se apoiarem mutuamente numa aproximação a espaços e plataformas de interesse comum”, elucidou.
Segundo Neves, é de importância relevante a união dos dois arquipélagos do Atlântico, com processos de povoamento semelhantes, de cujo cruzamento de povos e cultura resultaram sociedades crioulas, tendo a história e a cultura marcadas de forma indelével pela “rota dos escravos”.
O Chefe do Estado aproveitou o ensejo para mencionar o movimento mundial de candidatura da crioulização e das culturas crioulas a Património Mundial, do qual é padrinho e porta-voz e reiterou poder contar com o apoio da República de São Tomé e Príncipe.
“Cabo Verde, como primeira nação crioula do mundo, pretende, nessa qualidade, acolher uma Cimeira alusiva à crioulização, entre finais deste ano e inícios do próximo. Para esta empreitada, desejo poder contar com um forte apoio e engajamento político de São Tomé e Príncipe, também nação crioula”, disse.
Ainda durante o seu discurso, o Chefe do Estado lembrou que durante todo o período colonial houve “incumprimentos contratuais em relação aos nossos compatriotas” e congratulou os esforços conjuntos que estão a ser feitos entre Portugal, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, no sentido de retomar o dossier relativo aos descontos para a reforma, efectuados por esses cabo-verdianos, que já têm uma idade avançada e enfrentam uma situação socioeconómica precária.
“De igual forma, considero que a partilha do acervo de documentos históricos relativos à emigração cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe seria de uma importância relevante. Os nossos povos sofreram a violência da escravatura e do colonialismo, mas nem mesmo a condição de pequenos arquipélagos – dificultando a luta – esmoreceu a nossa vontade indomável de conquistar a independência”, asseverou.
O presidente da República de Cabo Verde enfatizou ainda que Cabo Verde e São Tomé e Príncipe são realidades similares, também por serem Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) e, naturalmente, vulneráveis às alterações climáticas, para além de enfrentarem outros desafios típicos.
“Hoje, a excelência das relações políticas e de cooperação, que advêm da existência desses laços histórico-culturais, deve ser potenciada ainda mais, quando nos empenhamos na batalha pelo desenvolvimento.Nos congratulamos com a graduação de São Tomé e Príncipe a País de Rendimento Médio, prevista para o próximo ano. Comunicamos a nossa disponibilidade para o apoio e assistência, e desejamos os melhores sucessos ao processo de desenvolvimento desse belo país”.
O Chefe do Estado de Cabo Verde disse os dois países têm de aumentar a interacção no seio do “grupo das ilhas africanas” dentro dos SIDS, nomeadamente, defendendo o acesso preferencial ao financiamento, a reconversão da dívida externa em investimento climático e, no âmbito da Nações Unidas, propor a adocção de um Índice Multidimensional de Vulnerabilidade (MVI).
“Cabo Verde pretende acolher, ainda este ano, a reunião preparatória da região SIDS dos Oceanos Atlântico e Índico e do Sul do Mar da China, que precederá à realização da Conferência geral dos SIDS, no próximo ano. Aproveitamos esta oportunidade para solicitarmos o apoio do também membro – São Tomé e Príncipe –, à nossa candidatura para acolher essa reunião preparatória”.
No final do discurso, José Maria Neves mencionou a actual conjuntura mundial com os impactos da Guerra na Ucrânia e reiterou a opção pelo diálogo e pela solução pacífica dos conflitos, e reafirmou a coincidência de pontos de vista entre os dois países, bem como a importância da prevalência de uma estreita concertação político-diplomática nas diversas organizações de que Cabo Verde e São Tomé e Príncipe fazem parte.