José Maria Neves, que discursava perante os representantes do corpo diplomático acreditado em Cabo Verde, depois de receber os habituais cumprimentos de Ano Novo, agradeceu pelo “continuado e imprescindível” apoio e a solidariedade da parte dos parceiros internacionais para o país lidar com as dificuldades e mitigar os efeitos da tripla crise.
“Auguro que continuem a trabalhar em prol da consolidação e o aprofundamento das relações de amizade e cooperação entre Cabo Verde e os vossos respectivos países e organizações internacionais, mormente neste esforço colectivo internacional de mitigação dos efeitos das múltiplas crises, numa conjuntura complexa e recheada de incertezas”, sublinhou.
Segundo o Chefe de Estado, 2022 foi um ano de muitas privações e enormes desafios a nível mundial e Cabo Verde não foi exceção. A pandemia da covid-19, a crise energética, associadas às alterações climáticas, agravaram sobremaneira os constrangimentos e as vulnerabilidades estruturais do país, tendo em conta a sua condição de Pequeno Estado Insular em Desenvolvimento.
Por outro lado, José Maria Neves sustentou que o agravamento da dívida pública e a degradação dos indicadores sociais constituem enormes desafios para o alcance das metas preconizadas nos quatro planos nacionais e fixadas pelos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável na Agenda 2030 das Nações Unidas e pela Agenda 2063 da União Africana.
Perante esses desafios, avançou que Cabo Verde tem apelado à comunidade internacional, no sentido de considerar a possibilidade de transformar a dívida dos Pequenos Estados, Insulares em Desenvolvimento (SIDS, na sigla em inglês) em investimentos climáticos e na educação, na saúde e no combate à pobreza e às desigualdades”, apontou.
Para o Presidente da República, perante a actual conjuntura, o mundo precisa de um multilateralismo efectivo, inclusivo, preventivo, dissuasivo e cooperativo e de um sistema internacional baseado em valores universais como a paz e segurança, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável.
Por outro lado, considerou ainda que as emergências dessas múltiplas crises têm aprofundando o fosso que separa África do desenvolvimento sustentável para todos, aumentando, ainda mais, a sua dependência em relação a domínios vitais, tais como a segurança, a energia, a alimentação, o digital e a saúde.
“Defendo que para se mitigar essas crises, é necessário, desde logo, fazer o nosso trabalho de casa. Há que, a nível do continente, realizar, efectivamente, a reforma da União Africana, criar um verdadeiro sistema de governança multinível, com a distribuição do trabalho entre a União, as organizações sub-regionais e os Estados”, acrescentou.
Em representação do corpo diplomático, o embaixador de São Tomé e Príncipe em Cabo Verde, Carlos Alberto Pires Gomes, garantiu que todos os países e organizações internacionais presentes no arquipélago estão e estarão engajados em apoiar e ajudar Cabo Verde no caminho da renovação, da construção e da retoma.
O diplomata disse ainda que Cabo Verde pode continuar a contar com os apoios e a colaboração dos seus parceiros bilaterais e multilaterais nas diferentes vertentes de desenvolvimento, e que estão a acompanhar os investimentos que a autoridades cabo-verdianas têm feito nas diferentes áreas de desenvolvimento para construção de um país mais sustentável e seguro.
Na mesma linha, congratulou-se com a coragem, resiliência, determinação e o exemplo de Cabo Verde face às crises, mas também pelas estratégias e medidas de políticas criadas pelo Governo para a retoma da economia e bem-estar social.