“Estamos a acompanhar de perto os recentes acontecimentos em Portugal, nomeadamente a trágica morte do nosso concidadão Odair Moniz. Desde o primeiro momento, Cabo Verde posicionou-se através do nosso embaixador em Portugal, que teve uma intervenção clara e firme”, disse Correia e Silva aos jornalistas.
O Chefe do Governo afirmou que confia no sistema judicial português e apelou para que o caso seja tratado com a seriedade necessária.
“Confiamos na justiça portuguesa e nas suas instituições. O processo está em fase de investigação criminal e esperamos que seja conduzido com a celeridade necessária e que haja a devida responsabilização, caso o apuramento dos factos assim o determine”, apelou.
Também apelou à tranquilidade e pediu que os tumultos e os episódios que tem sido acompanhado nos meios de comunicação não agravem a situação, criando um ambiente explosivo que possa fugir ao controlo.
“Este é um momento que afecta tanto Cabo Verde como as nossas comunidades na diáspora, uma vez que estamos perante um cidadão cabo-verdiano e também português. Por isso, reiteramos: esperamos que se faça justiça”, sublinhou.
Ulisses Correia e Silva revelou ainda que já havia enviado uma carta de condolências à família da vítima.
Na mesma ocasião, o líder do Governo criticou as declarações de algumas figuras políticas em Portugal, repudiando o que classificou como discursos irresponsáveis.
“Repudiamos veementemente os discursos incendiários proferidos por certos actores políticos. Destaco em particular as declarações do presidente do Chega, que foram absolutamente irresponsáveis”, declarou, referindo-se ao tom utilizado nas declarações que culpabilizavam imigrantes.
“Num momento tão delicado e ainda em fase de investigação, não se pode atirar culpas especialmente contra comunidades, imigrantes ou a imigração cabo-verdiana. É essencial aguardar pelo apuramento completo dos factos e confiar na investigação criminal”, concluiu o Primeiro-ministro.
Odair Moniz, de 43 anos, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, na Amadora, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Na sequência da morte de Moniz foi registado na noite desta terça-feira, um total de 60 ocorrências na Grande Lisboa.
Entre os episódios registados, está a destruição de um autocarro da Carris que foi incendiado no Bairro do Zambujal, após ter sido roubado por um grupo de jovens que exigiram a saída dos passageiros e do motorista do seu interior. Horas depois, e já noite dentro, um segundo autocarro foi incendiado, assim como vários caixotes do lixo e uma viatura ligeira.
De referir, entretanto, que o presidente do Chega, André Ventura, manifestou-se contra a constituição como arguido do agente da PSP que baleou Moniz e que disse que deveria “agradecer-lhe pelo trabalho que fez de parar um criminoso”.
Na quarta-feira, 23, o Presidente da República, José Maria Neves, também manifestou “profunda tristeza” pela morte de Odair Moniz. Na sua nota de pesar, José Maria Neves manifestou solidariedade à família enlutada, amigos e a todos que conviveram com o jovem, transmitindo “as mais sentidas condolências” e apelou à calma, serenidade e confiança nas autoridades portuguesas.