Os serviços de saúde de São Vicente reorganizaram-se como parte da resposta da ilha à pandemia provocada pelo novo coronavírus. Exames e consultas foram remarcados e as rotinas, de profissionais de saúde e pacientes, alteradas.
O delegado de saúde, Elísio Silva, refere a necessidade de adaptar o atendimento público de saúde aos esforços para conter a entrada e proliferação do vírus.
Para evitar a aglomeração de pessoas, prioriza-se o atendimento domiciliar.
“As pessoas com doença crónica e idosos estão a ser acompanhados em casa ou nos centros de saúde mais próximos, conforme o caso”, esclarece o responsável.
A realização de análises clínicas também foi limitada. As recolhas estão a ser adiadas, com excepção de casos considerados urgentes.
A garantia de atendimento em casos urgentes é, aliás, a regra que vigora neste período de contingência. Tudo o que puder ser feito mais tarde é adiado para nova data, posterior à actual crise sanitária.
“Os centros de saúde são para demanda espontânea, pessoas que não estiveram em sítios endémicos”, explica Elísio Silva, recordando que suspeitas de COVID-19 devem ser despistadas, primeiramente, pela linha verde 800 11 12.
As consultas de estomatologia e as sessões de fisioterapia, que exigem contacto próximo entre técnico e paciente, estão igualmente suspensas, com salvaguarda de situações inadiáveis.
Desaconselhada é, por estes dias, a ida ao banco de urgência, desde logo, para evitar sobrecarregar o serviço. O funcionamento do Hospital Baptista de Sousa foi reorganizado, afectando consultas, cirurgias programas e outras valências.
“As consultas de especialidade que não forem urgentes são reprogramadas, porque não queremos aglomeração de pessoas e queremos os profissionais de saúde preparados para qualquer eventualidade”, refere.
“Temos que estar preparados para a eventualidade de acontecer algum caso. Sem os cuidados necessários, a propagação é rápida, daí que temos que estar preparados”, acrescenta o delegado de saúde.
Isolamento
O plano de contingência inclui a existência ou criação de espaços para isolamento de pacientes. Existem cenários de isolamento hospitalar ou extra-hospital, envolvendo os quartos privados e outras áreas já identificadas, mas também o centro de saúde de Bela Vista. Se necessário, será montado um hospital de campanha em local já previsto para o efeito.
Foram acautelados espaços de repouso para médicos e outros profissionais de saúde, evitando que estes, na linha da frente do combate e, por isso, em maior risco, tenham que ir a casa.
“A aldeia SOS, que nos disponibilizou o seu espaço, e o centro de estágios”, exemplifica Elísio Silva.
Quarentena e testes
O isolamento profiláctico foi a estratégia adoptada para rastreio e acompanhamento de todos quantos chegaram de outras paragens, antes do fecho de fronteiras e fim das ligações inter-ilhas.
Até segunda-feira, existiam 48 pessoas em quarentena domiciliária, sem qualquer caso suspeito.
“Quem está em quarentena é seguido quase diariamente pela delegacia, para fazer o acompanhamento, e tem contacto directo com as equipas dos centros de saúde. O centro de saúde conhece cada zona e tem mais facilidade para chegar às pessoas”, esclarece o delegado do Ministério da Saúde.
Desde o início da epidemia foram realizados quatro testes de despiste e todos deram negativo. Num cenário de suspensão de ligações domésticas, em caso de necessidade de envio de uma amostra para o laboratório do Instituto Nacional de Saúde Pública, que funciona na Praia, é accionado transporte para o efeito.
O procedimento responde à falta de um laboratório de virologia em São Vicente.
“Montar um centro de virologia custa muito, somos um país com poucos recursos temos que ir conforme a nossa disponibilidade”, relembra a autoridade sanitária.
800 mil
O número de casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus ultrapassou terça-feira a fasquia dos 800 mil, com o total de mortes na casa das 80 mil. Europa e Estados Unidos são as duas regiões com maior actividade viral. Em território norte-americano, os diagnósticos positivos aproximam-se dos 200 mil. O continente africano tem perto de 5 mil casos activos.
“Não devemos estar alarmados mas devemos estar preocupados e agir na prevenção”, aconselha Elísio Silva.
Lavar as mãos, manter o distanciamento social e seguir as orientações das autoridades de saúde continuam a ser os melhores conselhos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 957 de 1 de Abril de 2020.