Em entrevista ao Expresso das Ilhas (ver edição nº 845 desta quarta-feira), o presidente do IPC avança que o dossier será trabalhado na mesma linha que outros dossiers de classificação de património imaterial, como foi o caso da festa de São João - cuja classificação aconteceu em finais de Novembro passado – e contemplará a realização de um inventário.
“A nossa perspectiva em relação à oficialização é no reconhecimento do património maior de Cabo Verde que é a língua materna. Para este efeito o que se prevê é a classificação da Língua Cabo-verdiana como património nacional”, diz Jair Fernandes que explica que já se vai avançar para a preparação de um dossier técnico.
Fernandes garante que a classificação a património nacional abrirá o caminho à oficialização uma vez que esta pressupõe um reconhecimento nacional, “independentemente da questão da padronização, que acontecerá num segundo momento e cujo actor será o Ministério da Educação”.
Sobre as discussões que têm feito tardar a oficialização da única língua materna de Cabo Verde o historiador e especialista em turismo cultural defende que “a questão da oficialização da língua crioula cabo-verdiana acaba por ser um pouco como o da morna: todos queremos participar mas, exige uma certa cientificidade nas abordagens”.
O responsável do IPC acredita que a oficialização irá passar por desmitificar os conceitos, e garante que o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, através do IPC, não pretende a curto prazo entrar em debates sobre a padronização da língua.
“É um outro nível de discussão que, infelizmente, tem sido muito deturpada”, constata.
Sobre a coabitação de duas línguas oficiais – no caso o Português e o Cabo-verdiano - Jair Fernandes analisa positivamente as experiências de ensino bilingue realizadas tanto em Portugal como em Cabo Verde – “temos provas claras de que tem sido um sucesso” – e cita os exemplos de países como Moçambique e Timor onde o Português convive com várias dezenas de línguas oficiais, sem que isso tenha “posto em causa” a Língua Portuguesa.
Classificando a questão à volta das variantes como um “fait-divers”, Fernandes reitera: “alguns sectores da vida política e social acabam por deturpar determinadas informações e a estratégia é precisamente dar uma nova roupagem à questão da oficialização da língua. Nós, o que queremos de momento é a classificação como património. No quadro da revisão da Constituição da República iremos trabalhar uma proposta para o artigo 9º, que é a inclusão da Língua Cabo-verdiana como língua oficial”.
Na entrevista à edição impressa do Expresso das Ilhas, Jair Fernandes aborda ainda outros dossiers de classificação a património, o projecto Museus de Cabo Verde, o Plano de Gestão da Cidade Velha, entre outros tópicos.