Romeu ma Julieta, e companhia, de malas feitas para Praia

PorChissana Magalhães,6 abr 2018 6:50

Cartaz de "Romeu ma Julieta"
Cartaz de "Romeu ma Julieta"(Associação Mindelact)

Foi a peça de que todos falaram na mais recente edição do Mindelact – Festival Internacional de Teatro. Dia 14, sobe ao palco na cidade da Praia (auditório da Assembleia Nacional) a mais célebre criação de William Shakespeare, com o sotaque de "Soncent" e o saber fazer de uma equipa que não esconde o orgulho no trabalho criado.

Shakespeare em crioulo não é novidade no Teatro cabo-verdiano. Diferentes grupos de teatro já o fizeram ao longo dos anos. “Sonho de uma Noite de Verão”, “A Tempestade” e “Rei Lear” tiveram elogiadas adaptações para língua cabo-verdiana. Desta coube a vez à tragédia romântica á volta dos amores dos jovens Romeu Montecchio e Julieta Capuleto (Monteiro e Capuleto, na versão crioula), e dos desafectos das respectivas famílias.

“Romeu ma Julieta. Uma tragédia crioula”, adaptada por Emanuel Ribeiro e encenada por Fabiano Muniz, estreou em São Vicente em Novembro passado no palco principal do festival Mindelact, e esteve recentemente em reposição naquela mesma cidade, desta feita integrada na programação do Março Mês do Teatro.

Para Emanuel Ribeiro, que assina a adaptação para o crioulo da dramaturgia shakespeariana, “traduzir da pluma desse autor para o crioulo, uma das suas tragédias mais emblemáticas, reveste-se de responsabilidade acrescida, inerente ao facto de se partir de línguas teoricamente mais evoluídas, como o inglês e o português, para se chegar à língua cabo-verdiana supostamente mais pobre em léxico e idiomática”.

Mas Ribeiro afasta as dificuldades para se focar nas vantagens, apontando que o crioulo oferece uma musicalidade e exuberância “únicas” e que bem usados "redundam numa nova sonoridade e consonância para a lírica de Shakespeare”.

“Eu fizera já essa experiência em "Tempestâd", traduzindo pontualmente os diálogos da personagem Próspero que tive a honra de protagonizar, e, já trazia, dessa experiência fascinante, algumas teses, que a actual escrita veio dar maior solidez”, escreve o mesmo num texto a propósito da estreia de “Romeu ma Julieta” em que não deixa de mandar recado a quem “postulou que o “Shakespadjudo” desvirtua e empobrece os clássicos ou tira camadas às estórias de Shakespeare”. Defendendo a sua versão da peça, Ribeiro diz que “Romeu ma Julieta. Uma tragédia crioula” é a prova de que “nenhum verso, nenhuma entrelinha e nenhum dimensão da poética do mestre é indizível em crioulo vernáculo”.

Se isto não chegou  para despertar o seu interesse em assistir a peça, lembramos aqui que quem veste a pele de Julieta é a jovem actriz Deka Saimor, de quem aqui falámos há alguns meses e que coleccionou elogios com a sua interpretação.

Foto: Helena Moscoso
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O resto do elenco - Ailton da Cruz, Celeste Fortes, Emerson Henriques, Gabriela Graça, José Pedro Bettencourt, Lutchinha Gonçalves, Milton Pires, Nick Fortes, Patricia Silva, Vatch Graça, Elton Lopes, Emeline Santos, Eliana Rosa e Alanis Chantre - e da equipa da peça também vem bem recomendado.

A peça “é uma pancada na nossa cabeça para despertarmos, olharmos e darmos valor a quem escreveu (Emanuel Ribeiro), a quem encenou (Fabiano Muniz), a quem atua (elenco), a quem canta (Eliana Rosa), a quem fez o casting (João Branco) e a quem preparou o elenco (Janaína Alves Branco)”, escreve Valódia Monteiro, ele próprio dramaturgo, encenador e actor já com vários anos de experiência.

Por sua vez, Airton Ramos, espectador atento e entusiasta do teatro mindelense (ao qual tem dedicado textos de apreciação) destaca um aspecto da encenação: “linha de concepção do espectáculo - minimalista! Quiçá porque, como dizem, “menos é mais”. Os objectos metamorfoseiam-se: mesa-banquete, mesa-palco de guerra, mesa-janela dos enamorados, mesa-púlpito-confessionário de um (paternal) Frei que adjuva o (trágico) amor de Romeu ma Julieta”.

Fabiano Muniz, o encenador e director artístico do Grupo Caixa Preta de Teatro (Brasil), já tinha entre os 27 espectáculos teatrais que dirigiu em 23 anos de percurso pelo menos duas adaptações de William Shakespeare (“Os Dois Cavalheiros de Verona” e “Romeu e Julieta – Os Sonhos Devem Durar Uma Noite”). "Romeu ma Julieta. Uma Tragédia Crioula", é uma co-produção entre o Festival Mindelact 2017 e o Grupo Caixa Preta.

O drama vem à Praia com o Alto Patrocínio do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas e da Assembleia Nacional e tem o apoio do Expresso das Ilhas. 

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Autoria:Chissana Magalhães,6 abr 2018 6:50

Editado porChissana Magalhães  em  5 fev 2019 10:57

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