Dibango, mais conhecido por seu hit Soul Makossa (1972) é o primeiro famoso a morrer de COVID-19. Nasceu a 12 de Dezembro de 1933 (86 anos) em Douala, nos Camarões.
“Soul Makossa” era inicialmente o lado B de um single (45rpm) que continha um hino de homenagem à equipa de futebol dos Camarões, por ocasião da Copa Africana.
Segundo a RFI, depois de ter descoberto o jazz com um dos seus colegas de liceu e compatriota Francis Bebey, e ter participado nas efervescentes noites de jazz de Paris dos anos 50, do século passado, Manu Dibango, enceta a partir de 1971 a sua ascensão artística, graças à face B de um single destinado a exaltar o apoio dos seus compatriotas à selecção nacional dos Camarões (os Leões Indómitos), que naquele ano ia disputar o CAN, campeonato de África das Nações de futebol.
Reconhecido em vida
Após Soul Makossa, sucederam-se êxitos como “Manu 76” e “Super Kumba”, antes de actuar ao vivo no Olympia, em Paris, a consagração na capital francesa, que deu origem ao seu álbum de 1978.
“The World of Manu Dibango”, “Afrovision”, “Sun Explosion”, “Ambassador”, “Waka Juju” e “Mboa” firmaram o seu nome nos anos seguintes. “Wakafrika”, a coletânea “African Soul” e “CubAfrica” são edições mais recentes que testemunham a capacidade de síntese de Manu Dibango, com raiz na música de tradição africana.
Em 2004, o camaronês foi nomeado Artista para a Paz pela UNESCO como “reconhecimento à sua excelente contribuição para o desenvolvimento das artes, da paz e do diálogo entre as culturas do mundo inteiro”, lê-se no site da organização.
Uma das bandeiras de Manu Dibango, destacada pela UNESCO, era a da defesa “incansável pelos direitos de autor dos artistas, principalmente em África, e apoio na luta contra a pirataria de obras musicais”.
O músico camaronês entrou com uma acção judicial nos anos 1980 acusando Michael Jackson de plágio da sua música Soul Makossa, em duas faixas do álbum Thriller. Jackson resolveu o caso fora do tribunal, optando por um acordo financeiro.
Amigo de Cesária Évora
Manu Dibango colaborou com vários artistas ao longo de uma longa carreira, incluindo com Cesária Évora.
O saxofonista foi quem convidou a diva dos pés descalços para cantar no programa “Salut Manu”, do canal France 2, conforme a Inforpress.
A mesma fonte avança que foi a primeira vez que Cize cantou numa emissora francesa. Além disso, Manu Dibango acompanhou Cesária Évora com o seu Marimba (Xilofone) na gravação da música ‘Sodade’, junto com Bernard Lavilliers.
“Foi mesmo complicado colocar o seu instrumento no estúdio porque ele era grande”, revelou Djô da Silva à Agência Cabo-verdiana de notícias.
O ministro francês da Cultura, Frank Rieskier, segundo o G1, escreveu. “O mundo da música perde uma das suas lendas. A generosidade e o talento de Manu Dibango não conheciam limites. Cada vez que subia ao palco, ele se entregava intensamente ao público para fazê-lo vibrar de emoção. Penso em sua família e seus entes queridos”.
“As cerimónias fúnebres vão decorrer de forma restrita, em ambiente familiar, mas vai ser realizada uma homenagem assim que seja possível”, refere uma mensagem na página oficial do saxofonista na plataforma digital Facebook, citada pela Lusa.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 955 de 25 de Março de 2020.