O festival vai decorrer de 05 a 13 de Novembro e de acordo com presidente da associação Mindelact, João Branco, a ideia do teatro radiofónico surgiu de uma iniciativa desenvolvida em Elvas pela companhia portuguesa ‘Um Coletivo’, que volta agora a Cabo Verde.
“No período do confinamento um dos projectos que desenvolveram foi uma amostra de teatro radiofónico, na qual ficamos muito interessados. E visto que em Cabo Verde já houve uma tradição muito viva deste tipo de teatro, entrámos em contacto e desafiámo-los a fazerem uma selecção dos trabalhos que fizeram em 2020 e este ano”, explicou à Lusa o também encenador João Branco.
A programação prevê assim 13 peças transmitidas pelas rádios, naquilo que João Branco promete ser “uma maravilhosa viagem no tempo, com trabalhos também de autores cabo-verdianos que residem em Portugal”.
Além de Cabo Verde e Portugal, mais 12 países estarão representados nos diversos palcos preparados para a programação do festival de 2021, com especial destaque para países africanos.
“Há duas questões que nos impediam antes de trazer grupos do continente africano. A primeira tem a ver com a informação que não circula, onde a maior parte das companhias não têm sites próprios, o que torna difícil conhecermos os trabalhos que são feitos nestes países. A segunda está relacionada com os transportes e, por exemplo, é muito difícil fazer chegar uma companhia do Moçambique, onde há um teatro muito rico, inclusive com o estabelecimento em Maputo de muitas companhias profissionais, mas é incomportável do ponto de vista financeiro por causa das escalas dos voos”, lamentou.
Contudo, explicou, o confinamento devido à pandemia de covid-19 permitiu com que conhecessem o trabalho destes grupos, com a participação em projectos onde havia grupos de diferentes países africanos, alargando a “rede de afectos” do Mindelact. Assim, nesta edição estarão presentes além de Cabo Verde, trabalhos de Angola, Senegal, África do Sul, Togo e Quénia.
A programação definitiva do festival só será conhecida um mês antes da sua realização, mas João Branco adianta que a abertura será com um grupo oriundo de Portugal, com descendência africana e que vai encerrar com o conjunto nacional “Raiz di Polon” que este ano completa três décadas de existência, apresentando a remontagem do espectáculo “CV Matrix 25”.
“A Aurora Negra será a abertura feita por artistas africanas residentes em Lisboa, espectáculo que já foi premiado do teatro Dona Maria II. É uma temática interessante que tem a ver com ser mulher negra em Portugal, em que trazem à tona numa linguagem bastante biográfica as suas vivências”, explicou João Branco.
Adiantou também que estará presente do actor são-tomense Ângelo Torres, com trabalhos em Portugal e que interpretará o revolucionário Amílcar Cabral.
Desta edição foram excluídos o festival “Off” e os festivais nas praças, face ao receio de aglomeração de pessoas. O palco principal do Centro Cultural do Mindelo, ilha de São Vicente, vai acolher os espectáculos de maior dimensão, enquanto os de cariz mais intimistas serão apresentados no auditório da ALAIM, e outros palcos com espectáculos alternativos.
Incluirá outras artes, que incluem exposições artísticas e literárias, além do festival radiofónico, mas também a retoma da extensão na cidade da Praia, ilha de Santiago, prosseguindo igualmente a vertente do teatro digital, transmitidas em directo.
“O teatro digital não é uma filmagem dos espectáculos e a colocação posterior das filmagens nas redes. Mas sim a transmissão em directo de espectáculos que são esteticamente concebidos numa forma quase que revolucionaria para serem vistos através das plataformas digitais”, esclarece João Branco, admitindo que o teatro digital que se desenvolveu durante a pandemia “veio para ficar”.
Sobre o orçamento, adianta que há artistas que não recebem cachês do festival e que há apoios direitos ao Mindelact que não é possível contabilizar.
“Há grupos que conseguem patrocínios das suas viagens a partir de instituições dos seus países. É dinheiro que está a ser investido no Mindelact, mas é um dinheiro que não passa por nós, por isso tenho sempre muita dificuldade falar do orçamento e foi por isso que em 2014 lancei o conceito da economia dos afectos”, apontou João Branco.
O responsável explicou que esta economia permite aos agentes do teatro angariar fundos e parcerias nos seus países, de forma a estarem presentes em Cabo Verde.
O processo de vacinação contra a covid-19, já com mais de 70% da população vacinada, é um dos pontos que os organizadores pensam ser importante para a retoma do ‘normal’ e também do Mindelact, daí terem alargado para nove dias de evento, em comparação com os quatro no ano passado.
“Vamos escrever esta edição sobre ‘o signo da esperança’, visto que em 2020 a nossa palavra-chave foi ‘resistência’, em que foi uma edição muito especial, mas infelizmente muitas das componentes da programação não se realizaram. Este ano temos muita gente vacinada, muitos com a imunização completa e em Novembro acredito que o processo de vacinação estará mais avançada”, explicou, recordando que o festival Mindelact foi dos primeiros eventos a retomar no ano passado em Cabo Verde, após o início da pandemia.