A decisão, que coloca em causa os desfiles oficiais de 2026, foi divulgada hoje em conferência de imprensa pelo porta-voz do Conselho dos presidentes dos grupos oficiais, David Leite.
“É o culminar de uma longa, penosa e dolorosa jornada, marcada por uma caminhada no deserto, promessas não cumpridas e por um grito de socorro que, infelizmente, não foi ouvido.Ano após ano, as dificuldades agravam-se. As direções são obrigadas a fazer verdadeiros malabarismos, com acumulação de dívidas, para garantir o mínimo necessário: materiais, mão de obra de profissionais do carnaval e estruturas básicas para os estaleiros e locais de ensaios”, explica.
Os grupos afirmam que o desgaste físico e emocional é enorme e que a entrega voluntária que há décadas sustenta a maior manifestação cultural do país atingiu o seu limite. Segundo David Leite, as exigências aumentam, mas os apoios diminuem, tanto em verbas como em condições logísticas.
Entre as exigências não cumpridas, os grupos destacam a criação de estaleiros funcionais, seguros e dignos para todos os grupos, desbloqueio faseado da subvenção, com pagamentos em três tranches para permitir planeamento eficaz, disponibilização de espaço para a sede da LIGOC e elaboração de um estudo de impacto financeiro do Carnaval em São Vicente, para orientar futuros investimentos.
“Nenhuma destas condições foi cumprida, porque nenhum sinal de diálogo nos foi dado. Logo, perante a insistente falta de comunicação da CMSV, os grupos oficiais não têm qualquer condição para iniciar os preparativos para o Carnaval 2026, consequentemente, a realização dos desfiles oficiais do carnaval 2026.Cabe alertar que o Carnaval de São Vicente, enquanto maior expressão cultural de Cabo Verde, está seriamente ameaçado. Os grupos estão no seu limite. Sem estruturas, sem previsibilidade orçamental e com as dívidas acumuladas”, aponta.
Questionado sobre se os grupos já estabeleceram contacto com o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, David Leite explica que têm existido diálogos informais, mas que ainda não há qualquer confirmação de verbas para o Carnaval 2026.
“Até ao presente momento, relativamente ao ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, temos mantido apenas diálogos informais e, ao que parece, sem qualquer confirmação, existem verbas destinadas ao Carnaval 2026. Contudo, até agora, os grupos oficiais encontram-se na mesma situação em que terminaram o Carnaval 2025: sem diálogo, sem condições e sem o recebimento integral dos valores prometidos”, afirma.
A comunicação à imprensa contou com a presença de representantes dos grupos Monte Sossego, Vindos do Oriente, Estrela do Mar e Escola de Samba Tropical. Questionado sobre a ausência do Cruzeiros do Norte e do Flores do Mindelo, o porta-voz explicou que todos os grupos participaram nas reuniões desde maio, estando, por isso, alinhados no conteúdo da comunicação. Também o presidente da Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval – São Vicente (LIGOC-SV), não esteve presente.