A primeira vez que tive contacto oficial com este sistema, foi durante os Campeonatos de Rápidas e Semi-Rápidas (individuais e por equipas) em São Vicente, no ano de 2017. Para esta competição, o Mestre Internacional, Mariano Ortega que na altura era o treinador e capitão da AXSAL (Associação de Xadrez do Sal), decidiu ensinar os Axsalenses uma abertura “infalível”, de fácil compreensão estratégica, que poupava várias horas de preparação teórica das variantes, difícil de ser evitado e de jogar contra e capaz de criar inúmeras possibilidades tácitas. Podíamos optar por jogar posicional ou indo com tudo para um ataque ao Rei. O mais interessante nesse sistema é que poderia ser jogado contra qualquer resposta das pretas e executar oito ou dez lances sem sequer gastar dez segundos do nosso tempo. Era de facto uma excelente arma para aplicar em partidas rápidas!Infelizmente para mim, não pude usufruir desse brilhante sistema porque não me submeti ao mesmo treinamento pelo facto de não residir na ilha do Sal. Em contrapartida, tive de suar para lutar contra o London System sempre que enfrentava alguém da minha equipa nas individuais. Não perdi nenhuma partida contra o London, mas pude perceber a sua força e o caracterizei como sendo uma abertura “chata’’.
Na verdade até que o Ortega me “apresentou’’ o Sistema Londres após testemunhar uma pacata partida minha da Abertura Italiana. Logo que terminei a partida, senti umas palmadinhas nas costas “Ven aqui, Éder…no puedes continuar com este estilo, estás jugando muy tranquilo, así no passa nada! Mira esto...’’ e sentou-me à frente de um tabuleiro na sala de análises e começou a bombardear-me com ideias sobre o London System.
Mostrou-me como se jogava quando as pretas dispunham do Bispo de c8 fora da cadeia de peões, depois com este Bispo dentro da cadeia de peões e por fim, como se jogava caso o oponente optasse pela Defesa Índia do Rei. Explicou-me tudo isso em menos de um minuto! Claro que nem liguei.
Ora bem, se eu tinha achado “chato’’ o sistema, imaginem então os outros competidores que tiveram de jogar contra nós. Sempre que jogavam contra um player da AXSAL, saíam resmungando algo do tipo: “esse pessoal da ilha do Sal jogam todos da mesma forma’’, “mas que abertura é essa?’’, ‘’ sempre me vencem com essa abertura…é chato, pá! …é chato!’’.
Acabamos por vencer o Campeonato de Rápidas por equipas e outro facto plausível foi que a nossa equipa B conseguiu um empate frente à forte equipa da Académica da Praia nos tabuleiros em que jogamos de brancas. Fruto das vitórias de Augusto e Marcelo Reis, pai e filho. Adivinhem, culpa do London System!
O certo foi que, depois desses campeonatos, muitos foram pesquisar este sistema, uns para estudar como se defender e outros tornaram-se verdadeiros fãs, passando a aplicá-lo nas suas futuras partidas. Recentemente despertou uma grande adesão a nível nacional, especialmente nos xadrezistas da ilha de São Vicente. Isso tornou-se notório na simultânea realizada pela FCX em Abril deste ano, no Chess.com e conduzida pelo MI Ortega, na qual, por ironia do destino, o mesmo viu-se com algumas dificuldades em jogar contra o Sistema Londres ao enfrentar alguns jogadores da elite Cabo-verdiana, tendo estado mesmo em desvantagem na abertura em algumas partidas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 969 de 24 de Junho de 2020.