A nossa grande esperança vai para as anunciadas vacinas que, supostamente, irão colocar um ponto final nesta crise que se instalou devido à proliferação deste malfadado vírus que nos tem atormentado neste ano de 2020.
Como não sou vidente, nem comentador da actualidade, nem sequer candidato a profissional de saúde, não consigo prever quando é que iremos assistir ao fim desta pandemia, ou pelo menos ao regresso aquilo que poderemos chamar de vida normal. Por isso, não sei quando chegará o final deste período pandémico, mas, uma coisa será certa, após a pandemia, muitas alterações irão acontecer e é quase certo que iremos produzir algumas mudanças nosnossos comportamentos.
Muitas actividades sofrerão alterações significativas relativamente ao que nós conhecíamos no início deste ano.
O xadrez é uma das actividades que sofrerá mudanças, pois redescobriu-se durante a pandemia.
Quando digo redescobriu-se, quero dizer que a pandemia obrigou o xadrez, ou melhor, as estruturas do xadrez, a olhar mais para dentro de si e a realçar práticas que estavam praticamente encostadas na prateleira.
Uma dessas práticas é o on-line que “salvou” o xadrez da inactividade, permitindo que mesmo em tempo de pandemia se realizassem grandes competições da modalidade.
A “descoberta” das potencialidades da prática do jogo online, acordou a FIDE (Federação Internacional de Xadrez) para uma nova realidade que este parente pobre da modalidade pode trazer aos seus praticantes.
E a prová-lo é que, na última Assembleia Geral (AG) da FIDE, realizada no passado domingo, já houve referências à prática on-line, esperando-se que brevemente esteja regulamentada esta vertente do jogo, possibilitando a oficialização das competições realizadas por este meio, introduzindo, inclusivamente, os rankings oficiais.
É expectável que seja também regulamentada a prática híbrida e consequentemente a oficialização das suas competições.
Já agora explico que a prática híbrida consiste, “grosso modo”, juntar numa mesma competição, o presencial e o on-line, ou seja, criam-se várias salas de jogo físicas onde se juntam os jogadores que participam na competição e que farão a transmissão dos lances via online. Em cada sala haverá, pelo menos, um árbitro que terá como missão, entre outras, assegurar-se que os jogadores não fazem trapaça.
Esta prática híbrida, em Cabo Verde, poderá ser de grande utilidade para o desenvolvimento e massificação da modalidade, pois permite que todas as ilhas possam participar em determinada competição, sem necessidade de efectuar viagens inter-ilhas e sem custos acrescidos com os alojamentos dos forasteiros.
Imagine-se a poupança de dinheiro que será possível com a prática do xadrez em competições híbridas.
A própria AG do passado domingo realizada totalmente online, demonstrou ser possível realizar um mega evento destes, com custos mais baixos e com funcionalidades muito próximas do presencial. Até as votações foram efectuadas on-line, verificando-se a sua funcionalidade e praticabilidade.
E por falar em votações, abro aqui um parêntesis para informar que foi aprovada a candidatura da Hungria para a realização da Olimpíada de 2024, ou seja Budapeste, acolherá a 46ª Olimpíada de Xadrez.
Embora pese o facto da destruição que a COVID-19 trouxe a todo o mundo, o certo é que a verificarem-se as alterações previstas para o xadrez, é caso para dizer que até foi bom ter este período pandémico para se poder meditar e reflectir.
Não quero terminar a crónica desta semana sem fazer referências a duas competições on-line.
A primeira, é relativa ao Campeonato do Mundo de Rápidas On-line para cadetes, em que participaram três atletas nossos: Katlene Martins (Sal) nos Sub-12 femininos, Loide Gomes (Praia) nos Sub-18 femininos e Iliano Santos (S. Nicolau) nos Sub-18 Open.
Infelizmente nenhum deles logrou ultrapassar a fase africana e seguir em frente, mas mais uma vez tiveram oportunidade de competir com atletas de outras paragens, alguns com uma força de jogo muito superior aquela que nós ainda temos.
Finalmente, quero aqui referir que fui nomeado embaixador do Torneio Solidário, Red Cross Solidarity Chess Tournament, que decorrerá no próximo dia 20 de Dezembro na plataforma Chess.com.
Será um torneio Blitz em que o valor das inscrições (5 € por jogador) será convertido em brinquedos, a serem oferecidos à Cruz Vermelha para que os distribua pelas crianças mais carenciadas.
A organização deste evento está a cargo do CD Basico Ajedrez Gíjon 64 e toda a regulamentação pode ser encontrada na Chess.com.
Os jogadores cabo-verdianos que estiverem interessados em participar, podem contactar-me, através dos meios habituais, até dia 18 de Dezembro.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 993 de 9 de Dezembro de 2020.