O autor já realizara uma abordagem a esta temática noutra obra, onde foi lançada em 2016 sobre os “tubarões azuis — 40 anos de história da seleção nacional”. Contudo, é nesta nova abordagem que fala exaustivamente e com um grande sentido de homenagem dos pioneiros da seleção nacional de futebol.
É interessante verificar o lado humanista desta obra, sendo que conduz uma incursão personalizada ao percurso de de cada um dos protagonistas. Quim, Branco, Dany, Armandinho, Mané, Djodje, Betinho, Djudjú, Djoy-di-mama, Djô, Djedjê, Rubon-Chiqueiro, Flávio, Zé-di-nhana, Makuna, Dimas, Calú Pitão, Cadino e Balon são os grandes homenageados. É uma narrativa que começa desde os campos pelados e de pés descalços (ou apenas com bota num dos pés) até à gloria de vestir a camisola de Cabo Verde e as primeiras conquistas desportivas.
Ao analisar esta obra, poderemos ter duas perspetivas distintas, e entre si complementares. A primeira a análise de uma narrativa histórica, onde o autor ilumina os principais dados disponíveis servem depois para uma profunda reflexão sobre a evolução do desporto nacional em geral e o futebol em particular. Numa segunda perspetiva, mais romântica, temos a perspetiva sentimental, onde a personalização da história individual dos integrantes na seleção faz com que o leitor se sinta emocionalmente ligado com a sua personalidade.
Os inúmeros recortes de jornal e também a coletânea de fotografias, permite igualmente ao leitor a possibilidade de realizar uma introspeção própria sobre os dados fornecidos e chegar igualmente a conclusões não abordadas na narrativa do autor. De facto, o leitor consegue realizar duas viagens complementares. Igualmente, atrevo-me a dizer que sendo a narrativa centrada numa altura que atingiu significativamente uma larga franja da população cabo-verdiana, é possível considerar 3 viagens devido ao contacto próximo que alguns leitores conseguiram ter com os acontecimentos retratados.
É igualmente importante referir que esta obra tem também para si um contexto bastante importante na descrição dos factos no período da pós-independência. Ao abordar os percursos de cada um dos integrantes da seleção nacional de 1978 é possível deslumbrar também o impacto do processo de desenvolvimento nacional numa linha do tempo de grandes transformações sociais e mesmo das relações de Cabo Verde com os outros países (numa clara alusão ao papel do desporto neste processo).
O desafio de retratar o percurso destes 18 futebolistas e também do entrosamento das suas histórias nestes momentos singulares da história de Cabo Verde, é notoriamente um esforço de grande dedicação do autor. Isto não se demonstra somente pelo rigor que esta obra foi produzida, não obstante, pela evidente falta de dados específicos nesta época. Esta evidência é também demonstrada pela procura desta narrativa mesmo quando alguns dos atletas já não estão entre nós ou que estão adoentados.