O Instituto Nacional de Estatística anunciou recentemente que o crescimento da economia nacional no último trimestre de 2017 foi de 4,7% e que a nível anual deverá ficar abaixo dos 4% (previsão de 3,9%).
“Crescimento é sempre bom e passa pelo estímulo ao crescimento que o governo tem propagandeado. Pode passar por aí, por um retorno do investimento feito num clima de optimismo”, aponta António Batista, um dos economistas ouvidos pelo Expresso das Ilhas.
O clima favorável da economia mundial é outra das explicações que Batista avança. “Cabo Verde está muito atrelado à performance internacional e o mundo está a viver uma fase de expansão do PIB em praticamente todos os nossos países parceiros. Isso obviamente que vai contagiar Cabo Verde como sempre fez”, aponta.
Impossível de atingir parece ser a média de crescimento que o governo anunciava no início do mandato. 7% de crescimento médio anual. “Não. Isso não faz sentido porque as reformas que o governo tem feito não são suficientes para isso. E o nosso PIB depende muito dos nossos parceiros lá fora”.
Turismo, a galinha dos ovos dourados
O turismo tem sido apontado como o principal motor da economia nacional. E a verdade é que a sua contribuição para o PIB nacional tem rondado os 20%. No entanto, António Batista destaca que a ausência de um efeito multiplicador interno acaba por ser prejudicial para as contas nacionais.
“Mesmo o turismo, por muito que possa evoluir, ele não tem esse impacto porque nós não temos um efeito multiplicador interno. O turismo pode até evoluir, mas isso implica um aumento no défice externo, porque é mais importação e quando temos mais importação temos menos PIB, isso é óbvio. O impacto do turismo podia ser muito maior, mas com essa inexistência de um factor de multiplicação interna no país isso não é possível”, destaca.
Ainda assim, um crescimento acima da média
Os números do INE ficam, como já foi dito, longe dos valores que o governo pretendia atingir no início da legislatura. Ainda assim, aponta Avelino Bonifácio, “antes de mais é um aumento superior à média de crescimento dos últimos anos. É um aumento superior ao aumento natural da população, o que quer dizer que do ponto de vista do PIB per capita há margem para crescimento, porque se o PIB cresce menos que a taxa de crescimento da população quer dizer que a sua redistribuição por habitante é menor. Neste caso o PIB está a crescer mais que a média de crescimento populacional, ou seja, há margem para o crescimento do PIB per capita”, o que significa uma maior distribuição da riqueza.
7% talvez em 2021
Para Avelino Bonifácio, terá havido, por parte do governo, “algum optimismo exagerado em prever um crescimento médio de 7% ao ano”.
“Eu participei em alguns debates, logo a seguir às eleições, e eu tinha dito que apesar de existir algum potencial seria muito difícil conseguir esse crescimento médio e desde o ano passado que venho dizendo que já não é possível chegar aos 7% de crescimento médio anual”.
Para este economista, talvez em 2021, ano de eleições, seja possível “ter um crescimento de 7%, mas não será um crescimento médio de 7%, porque já teve dois anos de crescimento abaixo de 4%. Para conseguir uma média de 7% nos próximos três anos a economia teria de crescer a 12 ou 13%. isso é impossível, impossível”, destaca.
“Aceitável dinâmica” de crescimento da economia
Para o antigo governador do Banco de Cabo Verde, Carlos Burgo, os números que o INE divulgou mostram que a economia nacional registou, este ano, “uma aceitável dinâmica de crescimento”. “Com efeito, os dados provisórios indicam que a economia terá crescido 3.9 % no último ano, após ter registado um crescimento de 3.8% em 2016. Com isso, estará a crescer em torno do potencial”, acrescenta Burgo numa publicação no seu perfil de Facebook.
O antigo Governador do Banco Central mostra-se convencido que o ano de seca foi o grande entrave a um crescimento económico de maior volume. “Não se pode, porém, ignorar que esse desempenho da economia ocorre num contexto de seca severa, com acentuado impacto negativo na produção agropecuária. Não fosse a seca, o crescimento seria significativamente superior”.
No entanto, ressalva Burgo, “estão ainda por fazer as reformas, nomeadamente no que tange à qualificação dos recursos humanos e regulamentação do mercado de trabalho, à previdência social, à melhoria da eficiência da administração pública, ao desenvolvimento do sistema financeiro e à melhoria da eficiência territorial da economia, que reforçariam significativamente o potencial de crescimento”.
Por último, destaca Carlos Burgo, “infelizmente, não se nota ainda nenhuma alteração significativa a nível do perfil de crescimento da economia. Na realidade, o crescimento continua ainda excessivamente dependente da cobrança de impostos para a expansão da administração pública. Como é evidente, resulta desse facto um risco não negligenciável para a sustentabilidade do actual ritmo de crescimento da economia”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 854 de 11 de Abril de 2018.