Para o antigo governador do Banco de Cabo Verde, Carlos Burgo, os números que o Instituto Nacional de Estatística divulgou no início desta semana mostram que a economia nacional registou, este ano, “uma aceitável dinâmica de crescimento”. “Com efeito, os dados provisórios indicam que a economia terá crescido 3.9 % no último ano, após ter registado um crescimento de 3.8% em 2016. Com isso, estará a crescer em torno do potencial”, acrescenta Burgo numa publicação no seu perfil de Facebook.
O antigo governador do Banco Central mostra-se convencido que o ano de seca foi o grande entrave a um crescimento económico de maior volume. “Não se pode, porém, ignorar que esse desempenho da economia ocorre num contexto de seca severa, com acentuado impacto negativo na produção agropecuária. Não fosse a seca, o crescimento seria significativamente superior”.
O contexto internacional favorável é outra das justificações apresentadas por Carlos Burgo para o bom desempenho da economia nacional, não sendo de excluir, igualmente, “algum impacto positivo de medidas tomadas pelo Governo a nível da gestão económica e financeira”.
No entanto, ressalva Burgo, “estão ainda por fazer as reformas, nomeadamente no que tange à qualificação dos recursos humanos e regulamentação do mercado de trabalho, à previdência social, à melhoria da eficiência da administração pública, ao desenvolvimento do sistema financeiro e à melhoria da eficiência territorial da economia, que reforçariam significativamente o potencial de crescimento”.
Voltando ao mau ano agrícola, Burgo ressalva que o impacto da seca “regista-se mais a nível do emprego (e do subemprego) do que a nível do produto. Isto porque o sector agropecuário, embora ocupando uma grande parte da população, tem um peso relativamente modesto na geração do produto. Era já mais do que previsível uma degradação a nível do emprego”.
E é isso que leva o antigo governador do Banco de Cabo Verde a afirmar que “não se entende que se esteja a falar da melhoria do emprego, quando os números indicam precisamente o contrário, só porque baixou a taxa de desemprego. Num contexto de elevada volatilidade da taxa de actividade, como é o caso, a variação da taxa de desemprego diz muito pouco, para não dizer quase nada. A taxa de ocupação é um muito melhor indicador porque o denominador (a população em idade de trabalhar) é muito mais estável. E ela baixou. Assim como tinha subido há cerca de um ano”.
“Temos desta vez uma situação em que o crescimento da economia não é acompanhado de um aumento do emprego. Não há incoerência nenhuma, porque o crescimento também depende da produtividade. Globalmente terá havido um aumento da produtividade da economia. Isto porque o emprego provavelmente terá diminuído na agricultura, onde a produtividade é mais baixa. Ademais, registou-se expansão da actividade em sectores com maior produtividade”, reforça.
Para Burgo com a actual estrutura da economia nacional, a “diminuição do emprego na agricultura faz aumentar a produtividade da economia e se simultaneamente se regista expansão em sectores com maior produtividade (como também foi o caso), a produtividade global aumenta mais do que diminui o emprego e temos globalmente um crescimento acompanhado de uma redução do emprego”.
Por último, destaca Carlos Burgo “infelizmente, não se nota ainda nenhuma alteração significativa a nível do perfil de crescimento da economia. Na realidade, o crescimento continua ainda excessivamente dependente da cobrança de impostos para a expansão da administração pública. Como é evidente, resulta desse facto um risco não negligenciável para a sustentabilidade do actual ritmo de crescimento da economia”.