Segundo dados compilados pela Lusa a partir de um relatório de política monetária do Banco de Cabo Verde (BCV), de final de Abril, a exportação de serviços de transportes, assegurados pela Cabo Verde Airlines (CVA), ascendeu a 15.211 milhões de escudos em 2019.
O Produto Interno Bruto (PIB) de Cabo Verde de 2019 foi estimado anteriormente em 197,8 biliões (milhões de milhões) de escudos, daí que a receita com os passageiros transportados pela CVA – apenas rotas internacionais, que contam como exportação de serviços - representou praticamente 8% do PIB cabo-verdiano.
O desempenho positivo das contas externas (de serviços, o país continua a ser deficitário na balança comercial de bens) levou mesmo a um aumento histórico no stock das reservas internacionais líquidas, que chegaram a cerca de 70.000 milhões de escudos (a 661 milhões de euros), suficientes para 6,9 meses de importações de bens e serviços, em 2019.
“A melhoria da balança corrente, reflexo sobretudo do aumento das exportações de serviços e das transferências dos emigrantes e oficiais, numa conjuntura de redução dos preços das mercadorias importadas, explica o desempenho das contas externas em 2019”, nota o documento do BCV, que realça o saldo positivo da balança de serviços, que cresceu 26%, de 2018 para 2019, chegando a 37.332 milhões de escudos.
Esse desempenho foi “impulsionado pela expansão das exportações de transporte aéreo”, que subiram 37%, e de viagens, que aumentaram, também face a 2018, cerca de 8%, neste último caso para 49.896 milhões de escudos e explicado com o “aumento dos preços dos hotéis e restaurantes”.
O crescimento nas exportações dos transportes aéreos são associados, escreve o banco central, “aos resultados da política comercial da companhia aérea nacional”, a CVA, mas também devido à “dinâmica da procura turística e de eventos desportivos e políticos regionais realizados no país”.
Em Março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Loftleidir Cabo Verde, uma empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada). Outra parcela, de 10%, foi vendida em 2019 a trabalhadores e emigrantes cabo-verdianos.
A CVA transportou quase 345 mil passageiros no primeiro ano após a privatização de 51% da companhia, um aumento de 136% face ao período anterior, segundo dados da transportadora, mas desde 18 de Março que, face à proibição dos voos internacionais para o arquipélago decidida pelo Governo, suspendeu a actividade operacional.
Questionada pela Lusa sobre o desempenho da companhia após a privatização, em 01 de Março de 2019, a administração da CVA, liderada pelo grupo Icelandair, refere que transportou, até 28 de Fevereiro de 2020, um total de 344.639 passageiros, face aos 145.629 transportados de Março de 2018 a Fevereiro de 2019, pela então TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde), detida totalmente pelo Estado.
“Após a privatização bem-sucedida da CVA, a implementação da estratégia de ‘hub’ no Sal, de conectar quatro continentes, mostrou um aumento imediato do número de passageiros. Esse crescimento bem-sucedido continuou ao longo de 2019”, explicou, a propósito destes números, o presidente do conselho de administração e director executivo da CVA, Erlendur Svavarsson.
Totalmente parada actualmente, nas semanas anteriores à suspensão da actividade operacional, a transportadora já tinha começado a suspender várias rotas devido à COVID-19.
A companhia mantém a perspectiva de retomar as operações em 01 de Julho, “sujeita às recomendações da OMS e possíveis restrições locais” nos destinos onde opera.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, em 2019, as unidades hoteleiras receberam 819.308 hóspedes, um aumento de 7% face a 2018, e 5.117.403 dormidas, um crescimento também homólogo de 3,7%.
Apesar destes números, o vice-primeiro-ministro de Cabo Verde, Olavo Correia, já admitiu que o país deverá perder meio milhão de turistas em 2020, quebra superior a 60% face a 2019, além de um corte de 4% no PIB, devido à COVID-19.
Os dados do banco central corroboram estas preocupações, apontando para “uma contracção do produto interno em volume, em 2020, em pelo menos 4%, em larga medida resultado da retracção da procura externa”.