De acordo com o relatório bianual sobre as Perspectivas Económicas para a África subsaariana, hoje divulgado em Washington, no âmbito dos Encontros Anuais do FMI e do Banco Mundial, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Príncipe vão regressar aos crescimentos positivos, ainda que apenas Angola e Cabo Verde cresçam acima da média regional.
O relatório mostra que o país que mais rapidamente vai recuperar da recessão causada pela pandemia é Cabo Verde, que deverá ver a economia expandir-se 4,5%, mas é também o que mais vai cair este ano (6,8%), fruto das medidas de confinamento e restrições às viagens, que têm um forte impacto neste país altamente dependente do turismo.
No que diz respeito à dívida pública, cujo rácio face ao PIB na África subsaariana quase duplicou face à média entre 2010 e 2016, passando de 32,9% para 56,6% do PIB este ano, Cabo Verde ocupa também uma posição cimeira, sendo um dos países lusófonos onde o FMI prevê uma subida entre 2020 e 2021.
Neste âmbito, um dos que mais preocupa os analistas tendo em conta a quebra das receitas e o aumento da despesas, trazendo para cima da mesa a questão da sustentabilidade da dívida dos países africanos, é a Guiné Equatorial, o único país deste grupo que tem um rácio de dívida face ao PIB que é abaixo da média da região, devendo chegar a 2021 com 48,2%, o que compara com uma média regional de 57,8% no final do próximo ano.
A nível regional, o FMI alerta que "a África subsaariana está a lidar com uma crise económica e sanitária sem precedentes, que em apenas alguns meses pôs em causa os ganhos de desenvolvimento dos últimos anos e perturbou a vida e os rendimentos de milhões de pessoas", pelo que "a projecção base assume que, para a maioria dos países, algum distanciamento social vai continuar em 2021 e desvanecer-se a partir do final de 2022, à medida que a cobertura das vacinas se expande e as terapias melhoram".
O reaparecimento de novos casos em muitas economias avançadas e o espectro de surtos cíclicos na região "sugerem que a pandemia vai provavelmente continuar a ser uma preocupação muito séria durante algum tempo", dizem os técnicos do FMI, notando que a reabertura das economias está a contribuir para já haver sinais de crescimento no segundo semestre.
"Mesmo com custos económicos e sociais elevados, os países estão cautelosamente a começar a reabrir as economias e estão à procura de políticas que reiniciem o crescimento; com um abrandamento das medidas de confinamento, preços das matérias-primas mais altos e melhoria das condições financeiras tem havido alguns sinais de recuperação na segunda metade do ano", lê-se no relatório.
Ainda assim, para o conjunto do ano, o FMI prevê uma recessão de 3% na região, salientando que as economias mais dependentes do turismo, como Cabo Verde, e os países exportadores de matérias-primas, como Angola ou a Guiné Equatorial, foram os mais afectados.
"Para 2021 prevemos um crescimento de 3,1%, que é uma expansão menor do que a esperada no resto do mundo, reflectindo parcialmente o parco espaço de manobra orçamental que os países têm para sustentar uma política expansionista", razão pela qual o apoio internacional é fundamental.
Os países, alerta o FMI, "vão ter de fazer escolhas difíceis", mas o potencial de crescimento mantém-se inalterado: "A necessidade de reformas estruturais que promovam a resiliência é mais urgente que nuca, particularmente nas áreas da mobilização de receitas, digitalização, integração comercial, concorrência, transparência e governação, e mitigação das mudanças climáticas".
A nível mundial, o FMI prevê uma recessão de 4,4% em 2020 e uma recuperação de 5,2% em 2021.