"Quase metade dos nossos Estados-membros não deverão recuperar o seu Produto Interno Bruto [PIB] a níveis anteriores à pandemia até ao final de 2022", declarou hoje o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, citado pela agência Lusa.
Segundo o responsável, que falava à imprensa, em Bruxelas, na apresentação das previsões macroeconómicas de Outono do executivo comunitário, esta estimativa "reflecte a diferença na gravidade da pandemia e o rigor das medidas de contenção relacionadas". Ao mesmo tempo, é reflexo também das "diferenças nas respostas políticas internas e nas estruturas económicas".
"Espera-se, inclusivamente, que os países com grandes sectores de turismo demorem mais tempo a alcançar uma recuperação total", acrescentou Paolo Gentiloni.
A segunda vaga de covid-19 que está a afectar a Europa obrigou a uma revisão, em baixa, do ritmo de retoma da economia da zona euro em 2021. Face a esse ressurgimento da pandemia, a Comissão Europeia estima agora que só recupere 4,2% após uma contração de 7,8% este ano.
Na verdade, as projeções macroeconómicas para este ano são agora ligeiramente melhores, com Bruxelas a antecipar um recuo do PIB na ordem dos 7,8% no espaço da moeda única - o que continua a ser um recorde negativo -, quando em Julho, nas previsões intercalares de Verão, apontava para uma queda de 8,7%.
Para o conjunto dos 27 Estados-membros, a Comissão também melhora em nove décimas a previsão anterior, antecipando agora um recuo de 7,4% este ano, contra 8,3% no Verão.
Paolo Gentiloni explicou à imprensa que, para chegar a estas previsões, o executivo comunitário assumiu que "algum grau de medidas de contenção permanecerá em vigor ao longo do horizonte de previsão", isto é, até 2022.
"Isto explica o caminho mais lento da recuperação", realçou, recordando que, "após um aperto significativo no quarto trimestre de 2020", com a introdução de novas medidas de contenção como confinamentos mais ligeiros e encerramento de estabelecimentos, é esperado que "o rigor das medidas diminua gradualmente em 2021".
Contudo, salvaguardou, "não é fácil ter sólidas previsões numa situação tão incerta".
O comissário europeu frisou ainda que "a pandemia causou a recessão mais profunda da história da UE no primeiro semestre de 2020, ultrapassando a que se verificou na grande crise financeira".
"Esta contração, que foi desigual entre os Estados-membros, foi seguida de uma forte recuperação no terceiro trimestre, uma vez que as medidas de contenção foram atenuadas", acrescentou o responsável, notando que, nas últimas semanas, "a retoma foi interrompida" devido ao aumento das infecções.
No Verão, ou seja, antes desta segunda vaga de contágios, "certas partes da indústria, como a construção e comércio a retalho recuperaram vigorosamente durante o Verão, impulsionados por uma forte procura reprimida". Porém, o mesmo não aconteceu nos serviços que dependem de contactos de pessoa a pessoa, cujos níveis de actividade "têm permanecido mais fracos, uma vez que as medidas de contenção têm permanecido em vigor, afectando a procura e a oferta de serviços que envolvem, por exemplo, viagens, turismo, restaurantes e entretenimento".
Portugal, entretanto, é um dos países europeus mais dependentes do sector do turismo, que tem vindo a pesar cada vez mais na economia nacional, representando quase 15% do PIB e 9% do emprego.
Fora da UE, outros países que dependem fortemente do turismo, como Cabo Verde, onde o sector representa quase ¼ do PIB, o cenário poderá ser semelhante ao traçado nas previsões macroeconómicas de Outono de Bruxelas.