Um ano após o registo do primeiro caso de covid-19 em Cabo Verde, que colocou o país em confinamento, os representantes do sector empresarial afirmaram que os operadores económicos “vivem em situação de sufoco”, por não terem onde ir buscar os recursos.
Tanto o presidente da Câmara de Comércio de Barlavento, Jorge Maurício, como o da Câmara de Comércio, Jorge Spencer Lima, reconhecem e agradecem as medidas de mitigação dos efeitos da covid-19 junto das empresas e das famílias adoptadas pelo Governo, mas salientam que as mesmas não foram suficientes.
“A situação está mesmo alarmante, desastrosa. Se tivermos em conta que o turismo é principal sector da actividade e que corresponde a 20% do PIB, o efeito da pandemia tem sido devastador e esse efeito é nefasto em toda a cadeia de valor do turismo, seja na hotelaria, na restauração, seja no sector dos eventos, disse Jorge Spencer Lima, em conversa com a Inforpress.
O presidente da Câmara de Comércio de Sotavento apresentou uma série de dados, nomeadamente a redução do PIB , o aumento da dívida pública e das empresas, a diminuição do número de turistas em cerca 500 mil, a redução de receitas na ordem 28 mil milhões de escudos cabo-verdianos e a redução de quase 100% do tráfego aéreo, para mostrar que a situação é de facto “desastrosa”.
“O governo tomou um conjunto de medidas para proteger o emprego e o rendimento das famílias. Os empresários nacionais consideram que na globalidade as medidas adoptadas foram adequadas e positivas, mas houve muitos constrangimentos na sua operacionalização e isto dificultou o acesso aos benefícios por parte das empresas, tendo em contas as restrições impostas pelo Governo”, disse.
Jorge Spencer Lima afirma mesmo que o tecido empresarial “corre sérios riscos de se desmantelar completamente”, por ser essencialmente composto por micro e pequenas empresas, que “ já eram frágeis antes da pandemia”.
Por isso, temos que ter uma nova geração de medidas de apoio para salvar o tecido empresarial”, disse, adiantando que as duas câmaras de comércio já fizeram várias propostas ao Governo.
Em concreto, pedem o alargamento do “lay off” para além de 31 de Março, a prorrogação das moratórias de crédito, o saneamento financeiro das empresas, a criação ou reestruturação das linhas de crédito, sendo que a proposta é que os créditos sejam pelos menos 50% a fundo perdido, devolução dos impostos e medidas fiscais a nível da tributação, entre as quais a isenção fiscal para alguns sectores.
“Os hotéis continuam fechados há mais de nove meses, sem receitas, o sector de restauração tem uma perda de 50 a 70% da actividade, o sector de eventos tem quebra de praticamente 100%”, apontou.
“As moratórias vigoram até finais de Abril, mas se os bancos vierem cobrar agora ninguém vai poder pagar. Há empresas com facturação zero. Portanto, temos de tomar medidas de salvação de empresas”, disse, frisando que a retoma económica que muito se fala não passa de sonhos.
Um pouco mais optimista, o presidente da Câmara de Comércio de Barlavento, Jorge Maurício, deixa mensagem de confiança no futuro aos operadores e prevê que no segundo semestre de 2021, o país possa estar em condições de funcionar não em pleno, mas pelo menos com todos os sectores económicos de forma efectiva.
“Ou seja, com uma operação regular, uma actividade contínua, com rendimento para as empresas de uma forma global”, disse, salientando a necessidade de uma atenção especial aos três segmentos mais atingidos, que são as mulheres, os jovens e os trabalhadores informais.
Jorge Maurício afirma que tudo se pode fazer ainda é pouco para uma situação de pandemia.
Por isso, além de mais medidas referenciadas pelo representante de Sotavento, Jorge Maurício salientou que os operadores económicos têm de ter a confiança, estarem preparados, com plano de negócios bem orientados para a próxima fase, apostar no digital e aproveitar as oportunidades.
“O momento tem de ser de aprendizagem. Temos de começar hoje a trabalhar num plano de recuperação direccionado para o pós-pandemia, estarmos bem posicionados em relação aos nossos concorrentes, ter uma aposta clara na segurança sanitária para podermos receber bem os nossos visitantes, os nossos turistas”, disse.