As previsões constam de um comunicado em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) conclui, hoje, a terceira e última avaliação de Cabo Verde ao programa de assistência técnica PCI (Instrumento de Coordenação de Políticas, na sigla em inglês), iniciado em 15 de Julho de 2019 e que visa apoiar as reformas em curso no Estado, nomeadamente ao nível do sistema fiscal e privatizações, considerando a sua implementação como “satisfatória”, apesar dos efeitos da pandemia.
“Apoiou os objetivos de médio prazo das autoridades para a sustentabilidade fiscal e da dívida e para reformas mais amplas de reforço do crescimento no âmbito do seu Plano Estratégico para o Desenvolvimento Sustentável (PEDS). As políticas e reformas dos últimos anos, até ao início da pandemia, ajudaram a gerar maior crescimento, manter a inflação baixa, melhorar as posições fiscais e externas e colocar a relação dívida pública/PIB em uma tendência decrescente”, refere o FMI.
A organização reconhece ainda que a economia cabo-verdiana “foi duramente atingida pela pandemia”, estimando uma recessão de 14% (contra a previsão anterior de 6,8%) em 2020, “devido à desaceleração económica global, restrições de viagens e medidas de contenção doméstica que reduziram significativamente as atividades nos principais setores da economia”.
“As medidas de política e proteção social tomadas pelas autoridades estão a apoiar a economia e a ajudar os grupos mais vulneráveis a enfrentar o impacto da pandemia”, reconhece o FMI, que prevê ainda um crescimento económico de 5,8% do PIB (previsão anterior de 4,5%) este ano, e anualmente acima de 6% a partir de 2022.
Ainda assim, com a retoma da procura turística pelo arquipélago – sector que garante 25% do PIB anual – mais lenta do que o esperado inicialmente, devido a novas vagas da pandemia na Europa, o FMI admite “efeitos persistentes” na economia cabo-verdiana em 2021.
“Portanto, enfrentar a crise sanitária continuará a ser uma prioridade, enquanto as ações de política também visarão apoiar a recuperação projectada. A execução do orçamento de 2021 procurará encontrar um equilíbrio entre a acomodação das necessidades urgentes de saúde e desenvolvimento e o apoio à sustentabilidade da dívida a médio prazo, visto que Cabo Verde permanece em alto risco de sobre-endividamento”, alerta o relatório do FMI.
No início desta semana, em entrevista à Lusa, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, projectou uma recessão económica histórica de 14% em 2020, devido à pandemia.
“Ainda temos as estimativas, que estão a apontar para uma recessão de 14% [do PIB], o que é muito para um país que fechou 2019 com 5,7% de crescimento. Mas isso demonstra o real impacto e intensidade da covid-19”, explicou Ulisses Correia e Silva.
Segundo o FMI, as perspetivas económicas para Cabo Verde “continuam desafiadoras e incertas” e apesar da retoma do crescimento económico projetado para a partir deste ano, “existem riscos significativos”, sobretudo face à “evolução da pandemia e suas ramificações globais”.
O FMI refere ainda que o PCI que está a chegar ao fim teve “ganhos importantes para a ampla agenda de reformas das autoridades” de Cabo Verde e “apesar dos desafios gerados pela pandemia, o desempenho do programa para a terceira avaliação foi satisfatório”.