Declarações feitas hoje, em São Vicente, no final da Assembleia Geral-Ordinária da Empresa de Electricidade e Água.
As perdas globais de electricidade rondam 24,4 % de toda a energia produzida (cerca de 114,5 gigawatt-hora). Segundo o responsável, Santiago continua a registar “níveis de perda muito elevados”.
“Estamos a falar de valores preocupantes. Situa-se nos 34,5% [na Praia]. No ano passado, foi de 34,6. A questão preocupa-nos. Estamos a ter fenómenos de perdas, de roubos, furto e fraude cada vez mais sofisticados. Tem a ver com roubos na classe média, nos operadores económicos, um fenómeno que não tem nada a ver com o rendimento das famílias das pessoas, tem a ver com uma mentalidade de que as pessoas não querem pagar a energia”, alerta.
A ELECTRA dispõe de 11 equipas de fiscalização no terreno que, de acordo com Luís Teixeira, “têm conseguido estancar e reduzir de forma tímida o fenómeno”.
“É um crime cada vez mais organizado, as pessoas estão a revender energia roubada, é um crime que lesa não só a ELECTRA, mas toda a economia. Temos operadores económicos, padarias, hotéis, empresas de frio, temos a classe média em Palmarejo. Aqui para desconstruir a narrativa de que as pessoas roubam porque a ELECTRA não faz a ligação, é uma falsa questão. Em Palmarejo, todo o mundo tem energia, tem um contador, as pessoas têm um bom rendimento, isto é um problema de mentalidade, é um crime e as pessoas têm de ser punidas”, afirma.
Luís Teixeira afirma que, sozinha, a empresa não conseguirá combater “a guerra contra o roubo de energia”.
“A ELECTRA sozinha não vai ganhar esta guerra, é uma guerra difícil, as pessoas estão a sofisticar. Não só cabo-verdianos, também estrangeiros que dominam a tecnologia. Já encontrámos situações de furto e fraude com roubo oculto dentro da parede, com sistemas de corte da ligação remotamente. Há grupos que revendem energia roubada. Jovens recém-formados em electricidade que são contratados para fazerem biscates através de ligações clandestinas. Pessoas com energia roubada para prestar serviço. Tudo isso existe na Praia”, assegura.
Relatório e contas 2022 da Electra
A ELECTRA voltou a registar resultados negativos em 2022. Segundo o relatório e contas de 2022, aprovado na Assembleia Geral, a empresa registou um resultado líquido de 781.546 contos negativos, apesar da melhoria de 41,6%, cerca de 556 mil contos, em relação ao período homólogo.
Segundo o documento, a ELECTRA Norte voltou a ter lucros, com resultados líquidos positivos de 377 mil contos. No entanto, a congénere Sul, apresentou resultados negativos de 1,1 milhão de contos.
A produção de eletricidade atingiu o valor de 468,9 GW em 2022, aumento de 6,2% em relação ao período homólogo, sendo 83,2% de origem térmica, 15,4% eólica e 1,4% solar.
Relativamente à produção de água, foram produzidos cerca de 9,7 milhões de metros cúbicos. As perdas foram de cerca de 44,1%, um aumento de 3,6 p.p, quando comparado com o período homólogo. As perdas, segundo a empresa têm a ver, sobretudo, com “alguns fenómenos de roubo de água, perdas técnicas devido a condutas que carecem de alguma melhoria, sobretudo em São Vicente e no Sal”.
As dívidas acumuladas da Águas de Santiago (ADS) são um problema. O PCA da ELECTRA aponta para uma “dívida colossal” que ronda, neste momento, um 2,7 milhões de contos.