Óscar Santos informou, durante a apresentação do mais recente Relatório de Política Monetária, que as taxas de juro cobradas pelos bancos nacionais vão sofrer um aumento de 1 para 1,25%.
Segundo o Governador do Banco de Cabo Verde a subida das taxas de juro “é fundamental” para o “alinhamento gradual da condução da política monetária do BCV” com a do Banco Central Europeu (BCE) e para “reduzir o diferencial de juros e, deste modo, mitigar os riscos associados a uma potencial saída de divisas, garantindo a sustentabilidade do regime cambial de peg fixo da moeda nacional ao euro, sem descurar os desafios associados à estabilidade financeira”.
“O diferencial da taxa de juro em relação à zona euro tem aumentado” e é “um diferencial que é desfavorável a Cabo Verde”, apontou Óscar Santos.
De recordar que o BCE, por seu turno, anunciou, na passada quinta-feira, que ia manter inalteradas as taxas de juro após dez subidas consecutivas.
Além do aumento da taxa de juro, o BCV decidiu igualmente aumentar “a taxa de juro das Facilidades Permanentes de Absorção de Liquidez (FPA) em 15 pontos-base, de 0,55% para 0,7%; a taxa de juro das Facilidades Permanentes de Cedência de Liquidez (FPC), em 25 pb, de 1,25% para 1,5%; e a taxa de juro de Redesconto, em 50 pb, de 2,00% para 2,50%”.
Economia cresce 4,5%
Durante a conferência de imprensa o Governador do Banco de Cabo Verde referiu que o banco fez uma revisão em alta do crescimento do PIB.
Óscar Santos apontou que o BCV “antecipa um crescimento de 4,5 por cento do PIB. As actuais projecções, face às divulgadas emAbril de 2023, reflectem uma revisão em alta do crescimento do PIB, em 0,4 pontos percentuais”.
Para justificar esta revisão em alta, referiu que o banco central levou em consideração “o desvanecimento gradual dos efeitos positivos de arrastamento do processo de recuperação da crise pandémica, a conjuntura externa menos favorável, marcada pelo menor dinamismo nos principais parceiros económicos do país, com implicações ao nível da procura turística, que espera-se que seja mais moderada, os efeitos cumulativos da inflação, que, embora esteja a reduzir, continua ainda em níveis elevados, as condições de financiamento adversas e os critérios mais restritivos de aprovação pelos bancos de novos empréstimos, em particular para as empresas e, alguma incerteza em relação à oferta e aos preços da energia”.
Uma diminuição em relação ao crescimento económico do ano anterior que, recorde-se, tinha sido de 17,7%.
No entanto, prosseguiu Óscar Santos, em 2024 e 2025, “o crescimento do PIB em volume deverá recuperar gradualmente, cifrando-se nos 4,7% e 5,4% respectivamente, em resultado da melhoria dos rendimentos reais das famílias, sustentada pela descida da inflação e pelo aumento da procura externa turística em linha com a melhoria das perspectivas económicas dos principais parceiros”.
Inflação deve descer nos próximos anos
A inflação, apontou o Governador, deverá ser este ano de 4%, reduzindo-se depois para 2,2% em 2024 e para 1,0% em 2025.
“Esta tendência é impulsionada pela expectativa de queda dos preços das matérias-primas, tanto energéticas quanto não energéticas, nos mercados internacionais, pela normalização das cadeias de abastecimento global e pela redução das pressões sobre os custos de produção”, acrescentou.
Segundo o mesmo responsável esta “política monetária restritiva e as condições mais apertadas para a obtenção de crédito também deverão contribuir para reduzir a procura e, consequentemente, a inflação”.
Contas externas
Óscar Santos referiu também que as contas externas de Cabo Verde, “por seu turno, registaram uma melhoria menos pronunciada no défice da conta corrente em comparação com o semestre homólogo”.
Para que isso acontecesse “concorreram sobretudo, os abrandamentos registados nas exportações de serviços de viagens de turismo e nas remessas de emigrantes, que cresceram 40,9 e 1,4% respectivamente. Além disso, houve reduções nas exportações de serviços de transportes aéreos (em 37,1%) e nas reexportações de combustíveis e víveres nos portos e aeroportos nacionais (em 10,4%). No entanto, os rendimentos de investimento directo expatriados aumentaram”.
O aumento dos financiamentos da economia “em resultado de entradas de financiamento a favor do Tesouro, provenientes sobretudo do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional”não foram, segundo o Governador do Banco de Cabo Verde, “suficientes para cobrir as necessidades de financiamento da economia na medida em que o país registou uma perda de activos de reserva de cerca de 6 milhões de euros”.
Como resultado, prosseguiu Óscar Santos, “o stock de reservas externas líquidas nos primeiros seis meses do ano permitiu garantir 5,7 meses das importações de bens e serviços (seis meses no semestre homólogo), ainda assim em níveis considerados adequados para a manutenção da estabilidade do regime cambial de peg fixo ao Euro”.
Quanto às contas públicas, estas “têm evidenciado uma trajectória de consolidação orçamental sustentada pela performance positiva das receitas e em abrandamento das despesas correntes e despesas com activos não financeiros”, concluiu.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1144 de 1 de Novembro de 2023.